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28 de set. de 2007

Hairspray

Foi nas décadas de 40 e 50 que o cinema viveu a era de ouro dos musicais. É com certeza o mais escapista dos gêneros cinematográficos. Nele não há um pingo de verossimilhança. No meio do filme um punhado de atores subitamente começa a pular e cantar?

Pessoalmente não tenho problemas com isso. Basta lembrar de Gene Kelly e Donald O´conor em Cantando na Chuva, ou mesmo Fred Astaire e Cyd Charisse em Roda da Fortuna. Obras memoráveis que mantêm seu frescor até hoje.

Mas vamos a Hairspray. O filme tem o seu charme, mas peca pelo excesso. Muitas canções, coreografias e também muito enchimento para transformar John Travolta em mulher, numa manobra de marketing sem muita sutiliza. São mais de duas horas de filme. O número musical final beira o insuportável.


Há atores talentosos que sempre valem a pena rever, como Christopher Walken e Michelle Pfeiffer (linda!). A atriz-personagem principal também é graciosa. Porém, mesmo com alguns bons momentos, o filme não acontece. Difícil compreender o entusiasmo de alguns textos sobre o filme. Foi-se o tempo áureo dos musicais.

Nos últimos anos tem havido uma tentativa de revitalizar o gênero. Chicago, Os Produtores, ou O Fantasma da Ópera foram até bem nos cinemas. O primeiro ganhou até Oscar. Mas o único musical recente realmente digno de nota é Moulin Rougue de Baz Luhrmann, que eu acho maravilhoso. Um exemplo de ousadia e talento. Mas o resto...

26 de set. de 2007

Bem -Vindo a São Paulo

Não deixa de ser um projeto interessante: Diversos cineastas participantes da Mostra de Cinema de São Paulo foram convidados por seu fundador e organizador, Leon Cakoff, para realizar um pequeno curta-metragem com suas impressões sobre nossa metrópole. Amos Gitai, Wolfgang Becker, Daniela Thomas, Maria de Medeiros são só alguns dos renomados diretores convidados a registrarem facetas da capital financeira do Brasil.

O resultado é irregular, como não poderia ser diferente num projeto desse tipo, mas infelizmente acaba sendo irregular demais! De tantos curtas acabei gostando de apenas um, talvez dois: O de Tsai Ming-liang e o de Daniela Thomas. Fica evidente que os diretores tiveram pouco tempo para captação de imagens, como também um período reduzido para trabalhá-las.

Leon Cakoff é um humanista, como se prova na leitura de suas reflexões no livro Ainda temos tempo. E talvez tenha valorizado em excesso o potencial que o “olhar estrangeiro” teria sobre nossa cidade.

Por certo, o olhar externo pode nos fazer ver o que não nos damos conta. Porém, o olhar de um recém-chegado pode também ser comprometido pelo simplismo. O que temos em Bem-Vindo a São Paulo é uma colagem de imagens que já conhecemos e que só estimularia, realmente, quem não vive ou conhece a cidade paulistana.

22 de set. de 2007

Pedrinha de Aruanda – Maria Bethânia

Fui ver o filme não pelo seu tema, mas pelo diretor que eu admiro e que acredito que é um do mais interessantes cineastas da atualidade brasileira. Ele é Andrucha Waddington, diretor de Eu Tu Eles e do belíssimo Casa de Areia.

Waddington, em Pedrinha de Aruanda, optou por um registro de observação. Com exceção de uma conversa com Dona Canô, mãe de Bethânia e de Caetano, não há demais entrevistas ao longo do filme. Prioriza-se momentos mais reservados. Filma-se uma mesa de jantar com o clã reunido, uma seresta informal pela madrugada.

O resultado é sensível, mas insatisfatório, senão contraditório. A própria Maria Bethânia que convidou o diretor para realizar o documentário. A produtora da cantora é uma das financiadoras do filme(!). Quais são as chances de Waddington ter registrado Bethânia em sua espontaneidade mais sincera? Maria Bethânia não deve ter "aprovado" o filme depois de terminado?

Não acho que é só porque não sou fã da cantora, mas me pareceu ao longo do filme que Bethânia interpretava Bethânia. Todos representam diante de uma câmera, isso é fato. Mas na maioria das vezes de forma inconsciente. Quando você realiza, ou idealiza, um filme sobre si mesmo, as chances de algo realmente genuíno de si transparecer no documentário ficam mais difíceis. Não é impossível, vide Santiago, mas é muito mais complicado alcançar um resultado que não seja narcisista.

A matriarca da família Veloso, que acaba de completar 100 anos, fecha o filme mais ou menos com o seguinte depoimento: “A fama e celebridade dos meus filhos de nada importa, o que importa é que eles são bons filhos”. Ora, esse filme existiria se Bethânia não fosse uma cantora de prestígio? E por que financiar um filme sobre si próprio se o resultado final não fosse, justamente, a auto-celebração?

16 de set. de 2007

Querô

Só uma pequena reflexão. Vi que Cidade dos Homens não tem feito boa carreira nos cinemas, principalmente em São Paulo. O que acontece? O filme de Paulo Morelli é cheio de qualidades, mas será que a temática da violência que permeia nosso País está saturada? Não interessa mais ao público? Talvez a realidade já seja por demais violenta para que a acompanhemos novamente representada na sala escura. Não sei.

Querô, de Carlos Cortez, é um filme de muita força. Senão realmente muito bom. Espero que não seja ignorado, mesmo que haja uma pequena sensação de déjà vu ao ver o filme. Maxwell Nascimento, que faz o personagem título, é excelente. Em toda aquela revolta contra a sociedade que não lhe dá oportunidades, há um olhar muito humano.


12 de set. de 2007

Santiago (2)

Já vi Santiago algumas vezes, desde a sua estréia. É realmente um filme que muito me comove e emociona. Filmes, livros, ou peças que abordam a Família sempre tem chances de me fazer lacrimejar. Santiago, já escrevi aqui, não é só sobre o mordomo da casa dos Salles, como também é sobre o próprio diretor. Um documentário de auto-reflexão e auto-crítica.

Porém, revendo-o diversas vezes, é notável como seu diretor fez também um documentário coletivo. Coletivo não na sua autoria, mas em seu, digamos, “objetivo maior”. Em outras palavras: João Salles quer que seu filme sirva de registro não só de suas lembranças, mas das recordações de seus irmãos. Um filme-testamento de tempos já passados.

João foi entrevistado pelo Jô Soares no começo da semana. E o diretor pontuou com surpresa e satisfação quanto ao sucesso que o filme tem alcançado junto ao público. É realmente bem curioso. Um documentário (!) de teor tão pessoal e familiar, de edição um tanto quanto ousada, tocar uma considerável gama de espectadores.

Santiago é pessoal, sim, mas prova-se também universal. O que o filme coloca em seu subtexto é a busca de sentido para a existência. Numa vida que muitas vezes é plena “decepção”, como suportá-la? Como conviver com um Tempo tão implacável?

O mordomo, que vivia em um cubículo no Leblon, se refugiava dessa angustia inerente ao ser humano na devoção à Arte, na admiração pelos pintores pré-renascentistas, na cópia de textos sobre a aristocracia mundial e também em danças e exercícios ás vezes sem muito sentido...

João Moreira Salles, acredito (lendo suas entrevistas), fez seu filme em um momento pessoal muito difícil, e retornar à casa de sua infância e mocidade foi a tentativa de compreender o que é, emfim, a vida. Há nela algum sentido? Santiago (o homem) lhe ajudará a refletir essas questões.

2 de set. de 2007

Cidade dos Homens

E não é que o filme é bom! Vi o filme com um grupo de amigos no último sábado, e a opinião era unânime: Tínhamos visto um belo filme.

Caindo na fácil tentação de comparar Cidade dos Homens com Cidade de Deus, chegamos à conclusão que, em alguns aspectos, a recém estréia é até melhor do que o filme que virou referência do cinema brasileiro no mundo todo.

A pauta do filme de Paulo Morelli é clara: Como a honesta parte da comunidade da favela faz para sobreviver no meio da guerra civil não declarada que é o conflito no mundo do tráfico de drogas. Temática essa só pincelada por Fernando Meirelles em seu Cidade de Deus... Mas vamos ao que interessa!

Pelos olhares de Acerola e Laranjinha, vemos a luta pela sobrevivência diária, a busca por uma estabilidade familiar e os dilemas de pensar um futuro mais esperançoso num mundo tão violento e sem perspectiva.

Se vocês se lembram. Cidades de Deus terminava com um grupo de pré-adolescentes (crianças?) seguindo a cartilha do tráfico e da violência. Notícias de uma Guerra Particular, documentário de João Salles sobre o tráfico no Rio de Janeiro, fechava com um funeral de um traficante e de um policial mortos no conflito. Finais céticos, senão pessimistas em não apontar nenhuma solução ou alento para um problema tão complexo.

Cidade dos Homens prefere ver uma luz no final do túnel, e na última cena em que os dois amigos caminham no amanhecer há a sugestão da possibilidade de um futuro melhor. E por que, não? Sem cair em falsas ilusões, não vale mais a pena sugerir a esperança ao ceticismo?

Gostei demais do filme e fica aqui a recomendação...