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24 de jul. de 2007

Saneamento Básico – O Filme

Vale a pena não desprezar o novo filme de Jorge Furtado. Ele é muito mais interessante e inteligente do que parece.

Por mais despretensiosa que possa parecer essa comédia, há nas entrelinhas de Saneamento Básico um olho aguçado à realidade que nos cerca. Mais especificamente, temos um “comentário” genial sobre o momento atual de nosso Cinema.

Com bom humor, Saneamento Básico satiriza nossas leis de incentivo, nossos festivais, o fascínio e a incapacidade de cineastas brasileiros lidarem com efeitos especiais...

E no meio das desventuras de um grupo que tenta realizar um vídeo sobre a fossa que a comunidade carece, o diretor encena uma homenagem à própria sétima arte, na figura do personagem feito por Paulo José. Hoje lutando contra o Mal de Parkinson, o grande ator é figura já inesquecível na história do cinema brasileiro.

Furtado dá a ele um personagem–síntese das agruras e dificuldades que é fazer cinema nesse País. O final é puro Chaplin. Paulo José caminha sozinho ao longo da estrada, nos fazendo lembrar do final esperançoso de Tempos Modernos, de 1936.

Há esperança para nosso cinema tupiniquim, vale a pena lutar por ele. A imagem final nos diz tudo, sem dizer nada.

22 de jul. de 2007

Paris, Te Amo

Paris, Te amo é um caso curioso. 21 diretores consagrados realizam 18 diferentes curtas sobre a capital francesa, cada um se passando em um bairro diferente.

De Casablanca a Antes do Pôr do Sol. A cidade luz é sempre inevitavelmente associada ao amor, ou a possibilidade dele. “Sempre teremos Paris”, diz Humprey Bogart a Ingrid Bergman no final do filme de Michael Curtiz, de 1942.

A diversidade de abordagens é um dos triunfos do filme. E mesmo que nenhuma pauta específica tenha sido dada aos diretores, o tema do amor permeia quase a totalidade deles. Seja o amor entre mãe e filho, entre homem e mulher, ou sobre uma solitária apaixonada pela própria Paris.

O resultado é muito mais regular do que se poderia esperar de um projeto como esse. Alguns curtas são realmente decepcionantes, mas a qualidade da maioria faz do filme uma experiência agradável, senão encantadora.

Aos mais céticos ou frustrados com o universo amoroso: Paris, Te amo pode nos fazer voltar a crer na imprevisibilidade do romance, na paixão inusitada e, principalmente, no Amor, que não é imortal, posto que é chama, mas que é infinito enquanto dura...

14 de jul. de 2007

Mais Estranho que a Ficção

No começo do ano fiz uma viagem pela América do Sul e acabei perdendo alguns filmes que queria muito ver na tela grande. Estou tentando ir em busca do tempo perdido pelo DVD. Tenho visto muita coisa e vi nesses dias Mais estranho que a ficção.

É o que costuma acontecer. Quando gosto de um filme tento acompanhar os filmes que o diretor faz posteriormente e, quando possível, vou atrás dos filmes que ele fez no passado.

O diretor em questão é Marc Foster. Me emocionei com o seu Em busca da Terra do Nunca, com Jonny Depp . Toda aquela elegia ao poder da fantasia e do sonho refletida através do autor de Peter Pan me pareceu de grande sensibilidade.

Foster é o diretor de Mais estranho que a ficção, e confesso que esperava bem mais de seu novo filme. A idéia é até que interessante: Um funcionário da receita federal certo dia ouve uma voz feminina narrando seus atos. E descobre que, na verdade, a voz é da autora do livro em que ele é o personagem principal.


Harold Crick (Will Ferrel): Ouvindo vozes que narram seu cotidiano.
Ao saber que seu monótono cotidiano está traçado para a morte inevitável, Harold Crick (Will Ferrel) decide mudar de vida. Nada de novo no front para um filme made in Hollywood...
Os atores se esforçam, mas o filme não decola. Só li textos elogiosos ao Mais estranho... , críticas ressaltaram sua originalidade e seu humor refinado, mas falta humanidade e leveza num filme que acabou ficando muito cerebral. O comediante Will Ferrel mostra-se um ator dramático excelente, porém não há química alguma com seu par romântico.

Um exercício de metalinguagem muito mais interessante, senão brilhante, é Adaptação de Spike Jonze com roteiro de Charlie Kaufman.

9 de jul. de 2007

Ratatouille


As animações se tornaram um dos maiores catalisadores de dólares da indústria. E o diferencial da época atual com a época áurea dos desenhos Disney, é que os desenhos contemporâneos são formatados pra agradar tantos os pequenos quanto aos adultos. Hoje não há problema algum em criar tiradas e gags que só fazem rir o público mais crescido.

Não costumo ter a mínima paciência com esse tipo de filme. É doloroso pra mim ver um “desenho animado”. Muito mais no cinema. Fico me contorcendo todo com aquelas lições de moral, o didatismo, as cantorias...

Mas o novo filme idealizado pela Pixar/Disney é algo fora dos padrões. Posso não gostar de vê-los, mas vi a maioria dos desenhos lançados nesses últimos anos, principalmente os da Pixar, e arrisco dizer que Ratatouille é de longe o mais excepcional dentre todos eles.

Mais que só acompanhar as desventuras do rato que sonha ser um grande chef de cozinha, o filme possui camadas de leitura suficientes para refletir sobre vocação, arte, a vida...

Antom Ego(Peter O'Toole): Crítico se humaniza a provar uma obra-prima da gastronomia.

Já disse aqui outra vez, citando Truffaut, que a arte têm o poder de nos humanizar, e é isso que ocorre com a figura do crítico de gastronomia Antom Ego, dublado no original por Peter O'Toole.

Esse personagem é o que talvez transforme Ratatouille em algo tão inesperadamente inesquecível. Ao experimentar uma receita de um prato camponês, desenvolvido pelo rato – cozinheiro, o crítico faz uma viagem interna de volta à infância. Uma experiência que o faz rever seus valores de crítica, de sua postura diante da gastronomia e da vida!

O que ele prova naquele prato, na realidade, é uma obra de arte que o humaniza e o transcende. É lindo!