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31 de jul. de 2009

Território Restrito


Após os ataques de 11 de setembro, o governo Bush endureceu o cerco contra a imigração ilegal nos Estados Unidos. Usando a desculpa da segurança nacional, aumentou a fiscalização e construiu muros na fronteira mexicana. Este rigor contra a entrada de estrangeiros no país é o tema de reflexão do filme “Território Restrito”, estrelado por Harrison Ford (“Indiana Jones”), Ray Liota ( "Os bons Companheiros" e Alice Braga ("Ensaio sobre a cegueira") que sai agora em DVD.

Assim como “Crash” (2004) de Paul Haggis, “Território Restrito” inter-relaciona moradores de Los Angeles. Lá, o que ligava os diversos personagens era a intolerância das relações humanas da cidade. Aqui, todos estão evolvidos na delicada situação imigratória: a atriz australiana que dorme com um agente do governo (Ray Liotta) para conseguir seu visto, a adolescente mulçumana ameaçada de deportação, a mãe solteira latina (Alice Braga) que pode ser expulsa do país sem seu filho pequeno.

Harrison Ford vive Max Brogan, um agente federal imigratório que seve de guia e observador crítico dos desenlaces do enredo. Seu olhar desesperançoso dá o tom filme. Acostumado a interpretar figuras heróicas, Ford faz um personagem solitário e impotente. Sua ética pessoal não traz muita diferença na engrenagem conservadora da América contemporânea.
“Território Restrito” não dá soluções prontas, somente põe em pauta a complexidade política, econômica e cultural da imigração ilegal. O excesso de personagens e subtramas deixam o enredo um tanto monótono. Um roteiro mais enxuto ajudaria o resultado final do filme escrito e dirigido por Wayne Kramer.

Kurt Coubain – Retrato de uma Ausência


Um documentário sem entrevistas, reconstituições baratas ou material de arquivo. O que guia este filme é voz confessional de Kurt Coubain, vocalista do grupo Nirvana que se suicidou em 1994. Não se estruturando como a maioria dos documentários clássicos – narração em off, informativo e historicista – Kurt Coubain – Retrato de uma Ausência (Kurt Cobain: About a Son) leva o espectador a uma viagem mais lúdica do que a maioria dos filmes de não ficção. Baseado no livro “Come As You Are: The Story of Nirvana” do jornalista Michael Azerrad, o filme revela conversas gravadas em mais de 25 horas de fitas, nas quais Kurt Cobain relembra a infância, o divórcio dos pais e seus dilemas como celebridade.

O filme dirigido e montado por AJ Schnack é bem rigoroso, busca não reiterar som e imagem, não banalizar sua construção visual somente ilustrando o que é dito pelo cantor. Planos e travellings das cidades de Aberdeen, Olympia e Seattle passam na tela enquanto ouvimos a voz Coubain. Esse conceito de montagem dá margem à imaginação, gera cumplicidade com o espectador e com a história desse roqueiro angustiado, que sempre se viu como um alien nesse mundo tão opressor como o atual. “Já está tudo tão requintado, plagiado”, diz o cantor num momento. Nas falas de Coubain encontramos um homem muito crítico de si e a América onde cresceu. Uma América cheia de feridas e contradições, já criticada por tantos cineastas.

Lembrar da obra do norte-americano Gus Van Sant é bem oportuno para clarear os temas abordados no documentário que estréia nesta sexta. No intrigante Last Days (2005), o diretor já tinha buscado compreender a figura melancólica de Corbain. Em filmes como Elefante (2003) e Paranoid Park (2007), Van Sant investigou também essa angústia que ronda o espírito do adolescente nos Estados Unidos contemporâneo. Um mal estar agregado à pressão escolar, instabilidade na família e muita raiva para extravasar, seja num piano (Elefante), na pista de skate (Paranoid) ou na guitarra punk rock, como foi o caso do jovem Kurt...

Michael Jackson acaba de partir. Juliano Mion, editor aqui do Cine Players refletiu recentemente sobre seu testamento cinematográfico no genial Moonwalker (1988). Com sua morte, vale a pena parar para pensar sobre a obsessão com a beleza e jovialidade que guia nossos corações e mentes. Refletir sobre os dilemas que enfrenta o olimpo das celebridades onde Michael talvez reinasse, e onde outros também já estiveram, como a princesa Diana e John Lennon. Todos mortos precocemente. Todos com suas vidas privadas expostas sem pudor por uma mídia quase tão cruel como um dia foi o Coliseu romano. As palavras de Corbain sobre o assunto são sinceras e virulentas. Nas entrelinhas, Kurt nos diz o que disse Greta Garbo em Grande Hotel (1932), e que marcou para sempre sua vida e autoexílio: “I want to be alone”.

Ao som de David Bowie, R.E.M. e Queen, as influências do cantor, Kurt Coubain - Retrato de uma Ausência é um convite à emoção e a reflexão (com o perdão da rima fácil). O filme começa com um vôo rasante sobre o oceano. Das profundezas, esse homem cheio de dor e arte volta à Terra para deixar parte de suas sensações sobre nosso planeta, que para ele era alienígena. Algo além e complementar às suas canções. De como perdeu a inocência, como foi sua relação com as drogas. Um filme belo e criativo, para fãs e também reticentes ao Nirvana ou ao Rock´n Roll.

http://www.cineplayers.com/

24 de jul. de 2009

Austrália


Depois do esplendoroso “Moulin Rouge” (2001), o diretor australiano Baz Luhrmann erra feio com “Austrália”. Um épico meloso de quase três horas. Mesmo contando com os astros Nicole Kidman e Hugh Jackman, e com as paisagens monumentais da Austrália, o filme é um espetáculo de artifícios, bonito para os olhos, mas sem a punjância que marcou os filmes anteriores do cineasta.

Numa Austrália em tempos de pré-segunda guerra, a aristocrata inglesa Lady Ashley (Kidman) recebe a ajuda do rude Drover (Jackman) para não perder as terras que herdou no selvagem território australiano. A partir dessa premissa, o filme perde-se no excesso de temas a desenvolver, como o romance dos protagonistas e a complicada questão aborígine no país.

Luhrmann é um perfeccionista. Um esteta como foi Vincente Minnelli e seus musicais na época de ouro de Hollywood. O perigo de tanto cuidado é o drama dos personagens ficar soterrado por tanta maquiagem: uma fotografia estonteante, uma trilha orquestral onipresente. Grandiloquência sem calor humano. Kidman e Jackman ficam até bonitos na foto do pôster, mas em cena não possuem química. Recitam seus textos, milimetricamente ensaiados, e a espontaneidade das sequências que deveriam ser bem humoradas ficam quadradas e caretas.

O cinema do diretor de “Vem dançar comigo” (1992) e “Romeu e Julieta” (1996) busca misturar gêneros do cinema, citações de filmes e referências à cultura pop. No caso de “Austrália”, as inflências vão de “E o vento Levou...” (1939) até os westerns spaghetti do cineasta italiano Sergio Leone. Principalmente “Era uma vez no Oeste” (1967), que também tinha uma mulher como protagonista que lutava por suas terras ante o progresso, etc.

Cabe agora esperar pelo próximo projeto de Baz Luhrmann. O cineasta tem provado seu talento através de obras sólidas. “Austrália” parece um erro de percurso, um filme desnorteado em sua própria ambição.


6 de jul. de 2009

Apenas o fim


Matheus Souza, estudante de cinema da Puc Rio juntou os amigos, 8 mil reais no bolso e filmou seu primeiro longa metragem. Sucesso inesperado no Festival do Rio, Apenas o fim é exatamente isso: um filme universitário. Despretensioso no conteúdo, simples na forma. Recheado de referências aos diretores que Matheus conheceu na sala de aula.


Os cursos de cinema e audiovisual tem aumentado e filmes com esse perfil devem chegar com mais e mais frequencia, o que é bom para nosso cinema. Apenas o fim deve dar coragem a muitos jovens estudantes que sonham fazer um longa respeitável, que possa ir para festivais e até estrear nas salas. Talvez o alarido sobre o filme tenha sido excessivo, considerando suas fraquezas no roteiro e na direção de atores. Mas Matheus pelo menos matou no peito, foi corajoso e fez o filme que pôde fazer. Agora é esperar o que a maturidade futura do diretor pode oferecer...
O Trailer,