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21 de set. de 2009

Os Normais 2


Rui e Vani atacam novamente. Seis anos depois do primeiro longa, o histérico casal vindo do seriado da tv Globo retorna com os “Normais 2 – A Noite mais Maluca de Todas”. Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres retomam os personagens que hoje já fazem parte do imaginário nacional.

O filme é uma co-produção entre a Imagem e a Globo Filmes, que nesse ano já teve ótimos resultados de bilheteria com as comédias “Divã” e “Se eu fosse você 2”. Mas a expectativa quanto ao sucesso da segunda parte de “Os Normais” nos cinemas é bem maior. Orçado em R$ 5 milhões, o longa estréia em mais de 400 salas por todo o Brasil. Um recorde em locais de exibição desde os tempos da “retomada” no início dos anos 90.

Se no primeiro filme os produtores buscaram dar um preview da história de amor entre Rui e Vani, “Normais 2” é mais pragmático e volta ao espírito anárquico e acelerado da série televisiva. Numa única madrugada, o casal corre atrás de uma mulher que tope realizar um “ménage à trois”. A idéia é apimentar o relacionamento que já dura 13 longos anos.

“Estávamos com saudades de Rui e Vani”, disse o roteirista Alexandre Machado na coletiva à imprensa realizada na última segunda, dia 24. Ao lado de sua esposa Fernanda Young, os dois formam a dupla responsável pelas piadas ditas como metralhadora pelos protagonistas. “Eles são muitos vivos pra gente”, continua Alexandre. “A gente põe eles numa situação e eles reagem sozinhos, naturalmente”.

A química entre Luiz Fernando e Fernanda Torres sempre foi ingrediente fundamental para essa “naturalidade” da série. E o desejo de somar esses dois talentos novamente pesou muito na hora de decidir pela realização de um segundo longa para os cinemas. “Somos dois velhos amigos e foi gostoso poder se encontrar de novo”, disse Fernanda.

A figura que fecha essa liga criativa é José Alvarenga Jr (“Divã”). O diretor credita a vitalidade da franquia, e suas esperanças para o sucesso do novo filme, ao “fato de a gente ter levado ao público aquilo que era inconfessável, mas de forma bem dosada”.

Bem, aí se pode começar a discordar da opinião de Alvarenga. “Normais 2 – A Noite mais Maluca de Todas” exagera na sacanagem, ultrapassando a fronteira do bom humor e flertando com a vulgaridade que remete o espectador à pornochanchada dos anos 70. Falta sutileza. Aquela espontaneidade e leveza imprescindíveis a qualquer comédia.

A fala dos atores é sempre over, o roteiro é de uma inverossimilhança ofensiva. As intermináveis “participações especiais” - que incluem Cláudia Raia, Danielle Winits e Alinne Moraes – não camuflam a banalidade de todo o projeto. Pelo contrário, deixam suas imperfeições mais à mostra.

No fundo, “Normais 2” é um episódio da série estendido para 90 minutos. Estruturado em sketchs como qualquer sitcom americano e que não cumpre seu principal objetivo: fazer rir.



Entrevista com equipe e atores: http://pipocamoderna.virgula.uol.com.br/?p=3624

17 de set. de 2009

CHE


Inevitável. A figura de Che Guevara é controversa e costuma dividir opiniões. Há quem o considere um verdadeiro exemplo de luta e rebeldia, e há aquele que descarta sua história considerando-o um assassino comunista fruto dos tempo de guerra fria. O curioso é que tanto o espectador simpatizante como o crítico do mito Guevara podem vir a gostar de “Che”. O filme dirigido por Steven Soderbergh busca a imparcialidade e não opina sobre as escolhas do guerrilheiro, deixando o espectador livre para tirar suas próprias conclusões. O que à primeira vista é muito bom, mas esse anseio por neutralidade traz também alguns problemas.

O filme divide-se em duas partes. “Che - O Argentino” - já lançado em DVD - relata o encontro do futuro revolucionário com Fidel Castro e seu envolvimento na Revolução Cubana no final dos anos 1950, avançando até sua participação na conferência da ONU em 1964. Já “Che - A Guerrilha”, que estréia dia 18, foca a derradeira luta de Guevara na selva boliviana que terminou com sua morte em outubro de 1967.

O primeiro filme é vitorioso. A extraordinária tomada do poder em Cuba por um grupo que chegou a contar com apenas 12 homens. Che inicia sua participação como o médico da empreitada. Ao longo da luta, sua coragem e habilidade se ressaltam e sua importância cresce até tornar-se, junto com Castro e seu irmão Raúl (Rodrigo Santoro), um dos principais líderes da Revolução.

“Che - A Guerrilha” é o sacrifício por um ideal. Após julgar terminada sua participação na história da ilha caribenha, Che decide levar o sonho socialista para outros países latino americanos. A miserável Bolívia é escolhida, mas tudo vai contra o sucesso dessa nova luta. O partido comunista local não adere às ideias do argentino, os camponeses ouvem desconfiados o discurso ideológico do grupo rebelde. Para piorar, com medo do país virar uma nova Cuba, o governo boliviano recebe maciço auxílio militar norte-americano, fundamental para a captura de Che. Fuzilado poucos dias depois de sua prisão.

O ator porto-riquenho Benicio Del Toro - prêmio de melhor ator no Festival de Cannes - constrói seu Che com força e personalidade. Mas como a intenção do diretor é construir um relato neutro do personagem, sem idealizá-lo ou denegri-lo, tem-se um câmera distante de Guevara a maior parte do tempo. Enquadramentos que lutam contra a performance de Del Toro, mostrado quase sempre de costas e em raros close-ups.

Parece não haver cumplicidade entre direção e protagonista. Há temor e precaução para não se deixar levar emocionalmente por um personagem tão fascinante. Diferente do que se via em “Diários de Motocicleta” do brasileiro Walter Salles, que conta a primeira viagem do jovem Ernesto Guevara pela América Latina. Lá, havia mais coragem em assumir uma certa solidariedade com Che. Mesmo com o trabalho talentoso de Del Toro, no filme de Soderbergh tem-se um Che Guevara distante e pouco palpável. Perdido em meio a uma série de frases de efeito ditas ao longo do filme.

No intuito de ser fiel ao fatos e à “verdade” sobre a história de Che, Soderbergh guiou-se pela frieza e objetividade que lembra o texto jornalístico. “Che” no fundo é isso, uma grande reconstituição jornalística: clara, imparcial e que busca ver os dois lados da moeda na personalidade do guerrilheiro. Ao longo de um roteiro sem eixo, episódios sobre a vida de Guevara vão se sucedendo com pouco critério, a não ser o de mostrar tanto seus atos heróicos como seus “podres”. As diversas execuções sumárias que ordenou, por exemplo.

O resultado final é puro tédio. “Che” é um filme frio, cansativo e anticlimático. O que sobra em pretensão falta em cinema. Vale para conhecer um pouco mais sobre a vida do revolucionário, mas não mais do que isso.