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28 de mai. de 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal


O quarto filme do herói arqueólogo é frustrante por uma razão principal: Spielberg há alguns anos já virou um adulto. Não é mais o jovem cineasta que concretizava no Cinema suas fantasias com tubarões, extraterrestres e heróis à moda antiga.

No começo de sua carreira, os críticos até o acusavam de ter um certo complexo de Peter Pan. Bem, se isso é verdade, esse tal complexo o ajudou a realizar filmes de primeira qualidade para o grande público, inclusive os três primeiros Indiana Jones.

Mas agora, quase vinte anos após a realização de Indiana Jones e a Última Cruzada, Steven Spielberg não pode voltar no tempo e ser novamente o cineasta que era, com sua imaturidade, frescor e outros atributos que o favoreceriam para acertar a mão neste seu último filme.

Esse amadurecimento talvez não ajude o diretor na realização desses filmes blockbusters, mas com certeza colaborou para a feitura de obras mais sólidas como A Lista de Schindler, O Resgate do Soldado Ryan e, principalmente, Munique, disparado o melhor filme de sua carreira.

O novo Indiana Jones só não é um desastre completo por causa de seus personagens cativantes e a performance de Harrison Ford. Como ocorreu com a nova trilogia Star Wars, Spielberg, George Lucas e companhia exageram nos efeitos computadorizados e deixam para segundo plano o desenvolvimento de uma trama mais amarrada e envolvente.

Seria exagero, creio, chamar Steven Spielberg de “autor”. Mesmo que seja possível observar temas recorrentes em seus filmes como a família, a questão do outro, etc. Porém, uma coisa é certa, mesmo ao fazer um filme de aventuras despretensioso, o cineasta deve buscar fazer o filme que pessoalmente lhe agrada, e nunca o filme que ele imagina que o público gostaria de ver na tela...

Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida é ainda o melhor filme de todos, e um dos motivos é que Spielberg fez esse filmaço muito para satisfazer a si próprio, enquanto que esse último filme, disse ele em entrevistas, fez para os fãs. Estou generalizando, eu sei, mas acho essa declaração pode ser outra pista para solucionar o porquê das duas horas de pura decepção.

6 de mai. de 2008

O Sonho de Cassandra (2)


Há um fator novo e digno de nota no cinema de Woody Allen, especificamente em seu último filme, que é o uso de uma trilha sonora original. Quem acompanha os filmes do diretor sabe que o melhor do Jazz norte-americano acompanha os enredos de seus filmes como também a cidade de Nova Iorque se tornou uma de suas marcas registradas no Cinema. Temos então em O Sonho de Cassandra algo novo a ressaltar, um compositor especialmente convidado para compor a trilha do filme, no caso o músico norte-americano Philip Glass.

Pessoalmente não sou um grande entusiasta das partituras de Glass para o Cinema. Acho suas músicas repetitivas, plágio de si mesmas, por mais que reconheça sua eficácia em filmes como As Horas e no documentário Sob a Névoa da Guerra. Em O Sonho de Cassandra, creio que a trilha funciona muito bem. É econômica, senão precisa para acentuar os momentos de tensão e suspense na trama.

Quando ressalto (no texto abaixo) que vejo em O Sonho de Cassandra um filme de alguém que domina a linguagem do Cinema é também considerando o bom uso da trilha sonora pelo cineasta. Vejo um amadurecimento nesse quesito no Cinema do diretor desde Match Point (2005), no qual a música operística tinha um papel fundamental como pano de fundo da aristocracia inglesa. No filme, trechos de obras de Verdi e Bizet são usados com mestria pelo diretor.

Em Scoop – O grande furo (2006), seu filme seguinte, também se passando em Londres, temos a música clássica novamente muito presente, só que agora na busca de um tom mais cômico, com Grieg e Tchaikovsky. Gosto então de pensar que o “sucesso” do uso da trilha orquestral (original) em O Sonho de Cassandra não é por acaso, mas comprova uma genuína preocupação do cineasta em explorar novos territórios quando se trata de música para seus filmes.

5 de mai. de 2008

O Sonho de Cassandra

Ir ao cinema para ver o novo filme de Woody Allen é como rever um velho amigo. Uma vez por ano esse nosso companheiro-cineasta reflete sobre temas que o perseguem e que já foram explorados anteriormente em sua vasta filmografia.

Diferente do que muitos críticos acreditam, O Sonho de Cassandra não é mera repetição, ou uma “sub-obra” na carreira de Allen. Mas sim, um novo degrau na investigação e enfrentamento de dilemas pessoais do cineasta como a Morte, a Ética e o mundo contemporâneo. Eis a trama: Dois irmãos precisam urgentemente de dinheiro e o método mais fácil de conseguir é matando o inimigo de um tio rico.

Em suas entrevistas, Woody Allen é o primeiro a admitir que não se acha um diretor apto para realizar filmes “políticos” ou de “crítica” a algum tema atual. Porém, tanto em seu penúltimo filme, Match Point (2005), como no que acaba de estrear, Allen prova ser um cineasta muito atento ao mundo globalizado em que vive e capaz de apontar suas contradições. Sob que Ética viver num mundo obcecado pelo dinheiro? Quais os limites que a sociedade têm ultrapassado em favor do sucesso nos negócios?

Essas são algumas das questões que permeiam O Sonho de Cassandra. Uma excepcional obra cinematográfica. De um diretor com extremo domínio da técnica e da linguagem do Cinema. A cena na qual o assassinato é posto em pauta na trama, e na vida dos irmãos, é simplesmente brilhante nesse sentido.

Como em Crimes e Pecados (1989) e em outros de seus filmes, temos o assassinato, a culpa, os dilemas de Raskólnikov que tanto fascinam o diretor nova-iorquino. O que faz, talvez, de O Sonho de Cassandra um filme tão forte é o ingrediente de tragédia que move a trama até o desenlace.

É fascinante acompanhar tão rica obra artística. Em Crimes e Pecados, o personagem (também assassino) de Mantin Landau conseguia empurrar sua culpa para debaixo do tapete, o que nos dava um nó interior em nossas convicções religiosas e dramatúrgicas. Em Match Point , por sua vez, o arrivista Cris, após o assassinato de sua amante inconveniente, parece ter perdido parte de sua humanidade num final amargo, dilacerante.

Agora, os irmãos Colin Farrel (excepcional) e Ewan Mcgregor pagam por seus crimes de maneira inevitável. Mais do que uma simples lição de moral como “o crime não compensa”, Woody Allen nos dá um testemunho lúcido e crítico sobre o estágio a que chegamos como civilização, na qual a busca pelo dinheiro destrói relações familiares das mais sinceras.

Um grande filme, com certeza. Que poderá entrar no grupo das obras-primas do diretor, junto com Manhattan (1979), A Outra(1988) e Crimes e Pecados (1989).