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23 de abr. de 2009

Uma caminhada com Coutinho

Quinta-feira, 20:00h. Um encontro de duas horas com o documentarista Eduardo Coutinho, organizado pela Casa do Saber. Fui sem pestanejar. O diretor expôs sobre seu método e filosofia de filmagem. Com seu mal-humor e cigarros costumeiros, Coutinho ratificou seu cinema pautado pelo humanismo, pela ética e compreensão do “outro”.

“... não tiro a câmera do lugar porque eu acho que o rei é o outro, o rei não é o diretor/artista, não é a câmera; o rei é o outro. [...] Eu quero conhecer a razão do outro, não a minha”. Disse o diretor em depoimento a Cláudio Valentini, no livro O Cinema segundo Eduardo Coutinho.

Terminado o evento, fui conversar com o mestre sobre seu último filme, Moscou, ainda inédito nos cinemas, mas que vi no Festival É tudo verdade. “Diferente do que muita gente pensa, gostei muito do filme”, disse a Coutinho. Descemos juntos pelo elevador. Como mora no Rio, Coutinho estava hospedado num hotel próximo da escola. Humildemente, pedi para caminhar com ele até o local. Duas quadras de caminhada, de conversa descontraída entre pupilo e seu tutor... Que fala pouco, que fala para dentro, mas diz o essencial.

Você tem mesmo uma obsessão pela morte em seus filmes, Coutinho. O fim e o princípio, agora Moscou. Filmes que falam da finitude.

Eu tenho uma obsessão pela morte, sei lá. É o que vale ser filmado. É o que me interessa, que é uma tragédia... O homem é essa coisa: que nasce, vive e sabe que vai morrer... Não dá pra fugir.

Mesmo como todo esse seu mal-humor e ansiedade, você continua optando por projetos de risco. Babilônia 2000, O fim e o Princípio. Filmes que poderiam não acontecer. Por quê essa opção?

Se eu não arriscar. Vou fazer o quê da minha vida?

Tem que se aventurar, então?

Exato.

E essa desconfiança com os intelectuais? De onde vem?


Pela história do século XX... Pela arrogância, sabe? A religião é o ópio do povo... tenho horror disso! Precisa ser tão arrogante?

Mas mesmo assim eles são um auxílio para entender os filmes que fazemos.

É. Eu sei que meu filme não vai passar no sertão da Paraíba. Sei que tem esse fosso, que não dá pra ultrapassar. Então eles ajudam, lógico.

Obrigado pela atenção, Coutinho. Josafá é meu nome. Prazer imenso.

Certo, certo. Até mais. Amanhã tenho um dia de louco...

15 de abr. de 2009

O equilibrista


Surpreende o documentário ganhador do último Oscar, em cartaz nos cinemas. Não tanto pela forma, que se apóia em entrevistas, reconstituições e material de arquivo. Mas é realmente fascinante a história de Philippe Petit, um excêntrico malabarista francês que nos anos 70 sonhou atravessar as torres gêmeas usando somente um cabo de aço e uma vara. O homem levou seis anos planejando a empreitada e com uma equipe de aventureiros alcançou o feito. Com apenas 24 anos de idade, Petit foi e voltou oito vezes de uma torre à outra. É belo e admirável ver na tela o sucesso da obsessão de Petit.

Mas por quê arriscar passear entre os dois prédios mais altos do mundo? Para quê? O filme não cai na armadilha de tentar encontrar respostas fáceis. Nas entrelinhas pode-se suspeitar as motivações do protagonista, como também as conseqüências que sua performance ocasionou. Um bom filme, para ver na tela grande. Impressiona tamanha audácia.

9 de abr. de 2009

Santiago em DVD

Roda da Fortuna, de Vincent Minelli. O filme favorito de Santiago.

Um filme que vi nove vezes no cinema. Nove!. Santiago, de João Moreira Salles, sai agora em Dvd. Em 1992 o diretor realizou entrevistas com o antigo mordomo de sua casa e família, visando montar um filme documentário sobre ele. Não conseguindo editar o material na época, Salles volta à sala de edição somente em 2005, articulando as imagens filmadas de uma maneira muito livre e pessoal.

Família, a fugacidade do tempo, morte. Muitos temas que o filme evoca e desenvolve. Mas Santiago não busca esgotar razões ou significados. É uma obra de fragmentos, lacunas, elipses. Quando da estréia do filme, escreveu o crítico de cinema do Estado de São Paulo, Luiz Zanin Oricchio: “O filme é feito assim de vácuos e buracos negros. Como se, através do seu personagem, o artista que é João Moreira Salles procurasse de alguma forma aproximar-se de algo que não pode ser apreendido. Um mistério próximo e distante, algo em que o cinema sempre aspira a se converter, nessa filmagem do invisível buscada por gente como Tarkovski e Kieslowski”.

Biscoito finíssimo.

4 de abr. de 2009

Luz silenciosa

plano do filme
Um filme que ficou pouco nos cinemas. Mas que vi agora em dvd e possui realmente muita força. Luz silensiosa, do mexicano Carlos Reygadas. Belíssimo, uma obra que busca registrar a transcendência, o mistério. Vejam, ou melhor, sintam o filme. Dá para alugar na 2001.

Reygadas, assim como Bresson e Dreyer, tenta com o Cinema tocar o sublime. O infinito. Irei atrás disso nos filmes que farei.