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29 de dez. de 2008

Retrospectiva Nacional - 2008

Não foi um bom ano para o cinema brasileiro. Ano passado, pelo contrário, foi memorável, graças a filmes como Santiago e Jogo de Cena. 2008, no entanto, foi bem fraco. Como prova: Listo e lembro abaixo somente três filmes que acho que merecem o recorte no ano.

(O atual sistema de produção de cinema no Brasil colabora, e muito, para essa escassez de obras mais significativas no período de um ano. Como hoje é realizado o investimento do Estado no cinema do país é de uma burrice paralisante. E enquanto for assim, teremos somente essas migalhas cinematográficas que estréiam todas às sextas-feiras nas salas do Espaço Unibanco. Filmes, a maioria, já pagos pelo dinheiro público e que são vistos só por uma miséria de espectadores.).
Mas bem...Vamos à retrospectiva:

* Serras da Desordem – Andrea Tonacci – Um filme com momentos soberbos. Também de sofisticadíssima riqueza formal. A questão indígena brasileira nunca antes foi tão bem representada (e defendida) como nessa grande obra de Tonacci. Veio para ficar em nossa cinematografia.

* Linha de Passe – Walter Salles & Daniela Thomas – O diretor de Central do Brasil é um grande cineasta. E seu último filme prova isso. Um filme humano, sensível. Uma verdadeira obra de arte.

* Ensaio sobre a Cegueira – Fernando Meirelles – Faço questão que essa produção internacional entre na revisão dos mais importantes filmes brasileiros do ano. Por que Fernando Meirelles - o autor do filme! - é brasileiro, ora. Um excelente diretor brasileiro. Seu filme, mesmo imperfeito, é uma obra com grande força cinematográfica. E com um recado humanista imprescindível para nossos tempos modernos.

27 de dez. de 2008

Retrospectiva Internacional – 2008

Para tentar organizar na mente o que se passou no período de um ano, fazemos listas, revisões... Nem é tanto uma questão de eleger os “melhores”, mas sim peneirar os filmes mais significativos. Buscando pepitas dentro de um rio cheio de pedras sem valor.

* Não estou lá (Todd Haynes) - Original, muito ousado. O camaleônico Bob Dylan interpretado por vários atores que dissecam suas personas. Filmaço. Na forma e no conteúdo.

* Batman – O Cavaleiro das Trevas (Christopher Nolan) – É cinemão sim, e daí? Nolan usa toda aquela parafernália de efeitos para expor suas inquietações sobre o mundo atual. A democracia, o terrorismo. Não é pouca coisa.

* O Escafandro e a Borboleta (Julian Schnabel) – Um filme de afirmação da vida. Emocionante sem ser piegas. Melhor que o livro que deu base ao filme. Grande cinema.

* O Segredo do Grão (Abdelladif Kechiche) – A questão imigratória na europa, resistência cultural. Grandes temas que dão sustentação à história de perseverança de um chefe de família que tenta construir e consolidar seu restaurante. Magnífico, seco, e com grandes interpretações.

* Fatal (Isabela Coixet) – Filme que passou em branco tanto pelo público como pela crítica. Uma obra de rara sensibilidade ao tratar dos dilemas de um maduro intelectual. Merece, sem temor, uma locação em dvd e uma redentora segunda chance.

15 de dez. de 2008

Terra Vermelha

Difícil o ofício do crítico. Sem excesso de vaidade pessoal. Analisar um filme socialmente engajado às vezes é uma cirurgia de risco: Ver criticamente as qualidades estéticas do filme sem desmerecer a relevância do tema que ele traz à tona. Temas fundamentais como, por exemplo, a crônica questão indígena no Brasil, assunto de Terra Vermelha.

Não é bom o filme do italiano Marco Bechis. Regular, no máximo. O formalismo cênico e a ânsia em ser didático na construção dramática das seqüências comprometem o resultado final. Os próprios índios mato-grossenses interpretam sua história de luta contra fazendeiros pela posse da terra. Mas eles não são atores, o que gera um desconforto quando contracenam com profissionais.

O filme não está à altura do tema. Serras da Desordem, de Andrea Tonacci, para dar um exemplo recente de filme que tratava do mesmo problema indígena, foi muito mais longe como linguagem e tinha também mais contundência.

2 de dez. de 2008

Queime depois de ler

Quando o assunto é os irmãos Coen, é preciso encontrar um equilíbrio. Os diretores do oscarizado Onde os fracos não têm vez não são os gênios que “dissecam a América de Bush”, nem uma dupla de cínicos diante de seu país e o mundo. Eles são, na verdade, inteligentíssimos cineastas, com extremo domínio de linguagem e um tipo de humor único. Às vezes fascinante. E com a mediocridade criativa reinando em Hollywood, um novo filme de Joel e Ethan Coen é sempre um bom respiro.

Queime depois de ler é uma comédia que, para se rir dela, é necessário entrar no “tom” adequado. Entender o registro do filme . Os Coen brincam com os gêneros de maneira muito articulada. Por isso, o filme não é nem (ou só) uma sátira, como também não é apenas uma comédia de erros com toques de humor negro. Em algum lugar entre essas classificações se encontra o cinema dos diretores. Um cinema de personalidade.

Para quem, então, conseguir embarcar na história que envolve cirurgia plástica, mal entendidos conspiratórios e mais uma série de personagens inusitados poderá se divertir imensamente. E também encontrará, sim, críticas aos valores que imperam nos Estados Unidos e no resto do planeta globalizado: A obsessão estética, a paranóia, a imbecilidade da cultura de massas. Nada que renda uma tese de mestrado sobre o filme. Mas dá para gargalhar com suas sutilezas e atuações inspiradas.