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25 de abr. de 2007

Filhos da Esperança

Fernando Meireles, diretor de Cidade de Deus, diz uma coisa interessante em seu livro Biografia Prematura, depoimento seu compilado pela jornalista Maria do Rosário Caetano. Ele lembra que Hollywood, diferente do que pode parecer, está muito mais interessada em contratar diretores que realizam um cinema não-convencional, do que os habituados a fazer um tipo de cinema mais tradicional. Hollywood carece de talento e originalidade, e busca por isso nos quatro cantos do planeta.

Foi assim com o mexicano Alfonso Cuarón, diretor de Filhos da Esperança, que acaba de sair nas locadoras. O cineasta chamou atenção há alguns anos com E sua mãe também, filme sobre a jornada de amadurecimento de dois adolescentes mexicanos.

Ganhando prêmios por todo o mudo, o diretor foi convidado para tomar as rédeas da terceira parte da série Harry Porter. Não vi esse filme, mas muitos fãs do bruxinho me garantiram que o filme era bem superior aos dois primeiros, dirigidos por Cris Columbus (Esqueceram de Mim). Alfonso Cuarón é bem talentoso e aparece agora com um filme que aponta para onde a humanidade pode chegar no futuro, se não olhar seu presente com mais cautela.

Filhos da Esperança alerta para um futuro próximo (2027) em que a raça humana não é mais capaz de se reproduzir. Caminha para sua extinção. Mas a esterilidade tomou conta não só de nossa biologia, mas também de nossa solidariedade com o outro. Racismo e questão imigratória são tratados como casos de polícia numa Inglaterra intolerante e em estado de guerra.

Nesse painel de desolação acompanhamos a luta de Theodore Faron (Clive Owen), burocrata que busca proteger uma jovem que carrega a criança que pode ser a “esperança” para um Mundo sem perspectiva.

O filme possui pelo menos duas cenas magistrais. Quando planos-seqüências nos deixam mais próximos da veracidade das cenas. Minutos inteiros passam sem que um único corte na montagem nos distancie de uma Londres que virou campo de batalha.


Theodore Faron (Clive Owen): Mundo sem perspectiva

Pegando um pouco carona com o post anterior, Filhos da Esperança é também cheio de admiráveis intenções. Mas parece que por estar sempre lembrando o espectador que, afinal de contas, HÁ esperança para a humanidade, seu filme perde a força que poderia ter.

O tom quase divino dado à criança recém nascida e a todo o final do filme me parece um pouco descabido. Lembra aquelas peças de igreja natalinas, com Maria ninando Cristo ao som de uma irritante música-coral... Mesmo com as boas cenas de ação, nos finalmentes de Filhos da Esperança já não há muito interesse em acompanhar o apático Clive Owen tentando salvar o filme, quer dizer, o Mundo...

23 de abr. de 2007

Batismo de Sangue

Difícil falar sobre esse filme. Para escrever uma crítica é necessário olhar a obra com certa perspectiva. Mas como ter esse distanciamento diante de um filme de tema tão delicado e humanamente relevante como acontece em Batismo de Sangue? Como criticar negativamente um filme sem desmerecer a sua causa e o seu tema?

Batismo de Sangue conta sobre o envolvimento de freis católicos com a luta armada em pleno 1968, ano decisivo no endurecimento do regime militar brasileiro. O diretor Helvécio Ratton tem claramente a intenção de fazer de seu filme uma referência didática para novas gerações. Mas a força do filme se esvai diante de interpretações pasteurizadas e cenas dramaticamente inconsistentes.

Às vezes é até incompreensível ainda encontrar no cinema nacional filmes tão imaturos dramaturgicamente como esse Batismo de Sangue, Zuzu Angel, Olga e outros.

Se o intuito do diretor era conscientizar o espectador sobre a luta e perda de vidas em nosso pesadelo militar, ele talvez consiga algum resultado nos últimos minutos do filme, quando a interpretação de um excelente Caio Blat “quase” redimi todo o filme até ali. Para que Ratton alcançasse inteiramente seus objetivos, ele primeiro tinha que aprender seu ofício de diretor de cinema.

Cabe ao cineasta liderar uma equipe de profissionais selecionada por ele, que o ajudem a passar sua visão do filme para a tela grande. Alguém duvida do talento de atores como o de Daniel de Oliveira e Ângelo Antônio? Ou mesmo do currículo do fotógrafo Lauro Escorel? Mas o diretor não foi capaz de potencializar o talento de sua equipe. Pelo contrário, molda seus atores para constrangedoras performances artificiais, e uma estética não muito mais interessante do que a que vemos numa novela global.


Recente estréia nos cinemas: Resultado incompreensível

Se algo pode se salvar dessa irregularidade irritante é a já comentada interpretação de Caio Blat, e a trilha sonora de Marco Antônio Guimarães (Lavoura Arcaica), que junto com Antônio Pinto, é um dos mais fascinantes músicos brasileiros para cinema.

Como disse no começo texto. Não pretendo desmerecer um tema tão delicado como o do filme. Sou sensível a ele. Mas boas intenções infelizmente não fazem grandes filmes...

Jack Nicholson, 70 anos

Domingo de madrugada. Texto curto. Hoje (ou ontem), dia 22, Jack Nicholson decorou seu bolo com setenta velinhas...

Nicholson já conquistou três oscars. Dois como melhor ator: por Um estranho no Ninho e Melhor Impossível, e um de melhor coadjuvante por Laços de Ternura. O “velho” Jack já faz parte da história do cinema, mas continua ativo. O bom Os Infiltrados do Scorcese está aí para comprovar a vitalidade do ator, interpretando um insano chefe da máfia de Boston.

Revi ontem a comédia Melhor é Impossível, de James L. Brooks, e lembrei de como é espantosa a versatilidade desse grande ator. Ele foi o pai assustador em O Iluminado, o malandro cativante de Um Estranho no Ninho, o exagerado Coringa em Batman de Tim Burton. Ele fala que esse é o papel que ela mais gosta em toda a sua carreira. Talvez seja por ter muito do próprio Nicholson no personagem. Ironia, sarcasmo e excentricidade são algumas das características do velho vilão do homem-morcego que Jack costuma cultivar e forjar para si próprio.

Vida longa ao septuagenário! Muitas das interpretações de Jack no cinema fazem parte do meu imaginário cinematográfico. Seu personagem em Um estranho no Ninho, torcendo por um jogo de beisebol numa televisão desligada é absolutamente genial! Cena para vida toda...

21 de abr. de 2007

Bond, James Bond


Deve ser complô da crítica especializada. É incompreensível. Se vi uma resenha negativa ao novo filme de James Bond foi muito. Até entendo a idéia dos realizadores de renovar a franquia dando mais realismo e humanidade a Bond. Mas o filme não decola em momento algum. Se há alguma grande cena em Cassino Royale é somente a inicial, com aquela perseguição por prédios e andaimes.

Mas aquele namorico do espião com Eva Green não me convence jamais. Não há química. Daniel Graig já mostrou antes que é um grande ator (Estrada da Perdição, Munique), mas sua inexpressividade em Cassino Royale é para mim uma incógnita. Ah, que saudades do sarcasmo de Roger Moore...

Em matéria de filmes que contam a gênese do herói, Batman Begins continua imbatível. Cassino Royale acaba de sair nas locadoras, será que só eu estou errado sobre o novo Bond, James Bond?

20 de abr. de 2007

O Cheiro do Ralo

Numa das entrevistas que Selton Melo deu para a divulgação de O Cheiro do Ralo, o ator comentou que adorava ver e rever o filme porque notava que era impossível ficar ileso ao personagem de Lourenço, que ele interpreta. “A arte deve provocar”, disse ele nos finalmentes da entrevista. Realmente. A arte tem que fazer-nos pensar. Pode-se até detestar O Cheiro do Ralo, achá-lo grosseiro e muitas vezes de mau gosto. Mas é impossível ficar indiferente a ele.
Depois da primeira vez que vi o filme fiquei até com um certo temor de alguém me perguntar se eu havia visto o filme. Pior ainda se a pessoa perguntasse se eu havia gostado ou não. Não saberia o que responder. Às vezes acontece, demora para se criar uma opinião sobre um filme.

Acabo de rever as aventuras do desprezível Lourenço. E estou agora mais seguro de minhas impressões. O Cheiro do Ralo é a crônica de um solitário. Um homem tão insensível com o seu próximo que é incapaz de qualquer compaixão.
Lourenço (Selton Melo) trabalha comprando e vendendo objetos dos mais diversos. É a única relação que consegue estabelecer com o mundo em que vive. Como disse Marx em seu Manifesto de 1848, no qual critica o ideal Capitalista, Lourenço “transforma as relações interpessoais em relações monetárias”.

Pode parecer um paralelo meio descabido. Mas nas duas vezes em que vi o filme, olhando para aquele incansável acumulador de “coisas”, mas não de pessoas, lembrei-me de Cidadão Kane, de Orson Welles. Kane, no filme de 1941, quando jovem é um idealista liberal, mas com o tempo transforma-se num manipulador de massas e amigos. No final de sua vida, nada lhe resta a não ser estátuas, mansões e propriedades. Acumulação de bens num propósito de preencher seu vazio existencial.

Num certo momento de O Cheiro do Ralo, Lourenço diz quase chorando que a maioria das coisas que ele sente mais saudade na vida são coisas imateriais. Lourenço quer voltar a ser mais humano, mas não consegue e nem sabe como. Ele busca redenção para o homem que ele se tornou: Um explorador execrável de pessoas no limite da humilhação. Nem em relação ao seu maior objeto de desejo (vejam o filme) consegue ele estabelecer uma relação afetiva. Tudo vira um objeto que o dinheiro pode possuir.

Como em Kane, temos aqui a jornada infeliz de um capitalista. Que seria inteiramente repulsivo se não fosse a interpretação de um Selton Melo inspirado, e merecedor dos prêmios que tem acumulado pelo filme. Nos divertimos com Lourenço, mas também sentimos por ele. O Cheiro do Ralo sabe fazer rir, e acima de tudo, provocar.

19 de abr. de 2007

Labirinto do Fauno

Filme emociona por contrapor inocência infantil e brutalidade fascista


Após ter postergado por quase quatro meses, fui na última quarta-feira ver o filme do mexicano Guilherme Del Toro. Junto com Afonso Cuarón (Filhos da Esperança) e Alejandro Iñárritu(Babel), Del Toro completa o trio de cineastas que representa uma fase de renovação no cinema mexicano.

O diretor de Labirinto do Fauno transita entre o cinema dito mais comercial, como Hellboy, e um cinema mais autoral, em que busca expressar com mais desenvoltura suas idéias e visão de mundo.

Gostei demais de Labirinto! O ano é 1944, e após o final da guerra civil espanhola grupos de resistência ainda lutam em prol do republicanismo e contra a ditadura de Franco. Nessa Espanha em convulsão, o filme acompanha a imaginação da pequena Ofélia, menina de pouco mais de oito anos, devoradora de livros de contos de fadas.

Em paralelo à historia fabular da pequena, acompanhamos os movimentos de resistência nas montanhas próximas onde se hospeda Ofélia, sua mãe e seu padrasto, capitão do exercito governista.

Num primeiro momento, o filme pode incomodar o espectador que não encontra uma relação evidente entre a fantasia da criança e o mundo real à sua volta. Mas uma olhada com mais cautela revela uma belíssima fábula para adultos sobre a importância da resistência política e a liberdade. Enquanto os adultos em volta de Ofélia lutam com armas, ela resiste com sua imaginação, com sua inocência. Ao final do filme, as pontas se fecham.

Filme conquistou os oscars de maquiagem, direção de arte e fotografia

A estética primorosa também merece nota. É sempre estimulante quando efeitos especiais colaboram para expressar a visão de um diretor consciente, e não existem somente para pura embromação. (acabo de ver Quarteto Fantástico...).

Enquanto o pretensioso Babel, na última festa do Oscar, ficava com o prêmio de consolação para a sua trilha sonora (convencional), Labirinto do Fauno conquistava os merecidos Oscars de maquiagem, direção de arte e fotografia.

Guilherme Del Toro prepara agora a continuação de Hellboy, com Ron Perlman. Não vi o primeiro da série por puro preconceito, mas vou reconsiderar. Há muita vida inteligente no cinemão, e muitas vezes nos passa despercebida.

17 de abr. de 2007

Tiros em Virgínia

Participo de uma série de grupos de discussão sobre cinema. E quase todos eles tiveram infelizmente como pauta do dia o tiroteio ocorrido no campus do Instituto Tecnológico da Virgínia. Muitos dos integrantes desses grupos lembraram de Tiros em Columbine, documentário de Michael Moore que tenta encontrar as razões para uma tragédia similar ocorrida numa escola ginasial de Columbine, EUA, em 1999.

Na busca por uma resposta para tal violência, Moore reflete sobre o fácil acesso ás armas de fogo, a política externa americana, o Medo como forma de dominação e outros tópicos. O diretor não encontra uma resposta absoluta, e nem poderia. O caminho final para a busca de um sentido para acontecimentos como o de 1999 e o de dois dias atrás estão fora de um alcance imediato.

Michael Moore se tornou um nome mundial após seu Tiros em Columbine, mas ao longo dos anos foi perdendo prestígio pelo questionamento de seus métodos como entrevistador e como cineasta manipulador de dados e emoções. Para mim, o cinema de Moore já há algum tempo deixou de ter o valor que um dia lhe conferi.

Nesse debate todo, poucas pessoas se lembraram da versão ficcional para o caso Columbine feita pelo diretor Gus Van Sant (Gênio Indomável) .O filme se chama Elefante e foi o grande vencedor em 2003 da Palma de Ouro em Cannes, maior festival de cinema do globo.

Van Sant, em seu filme, também não encontra respostas e nem quer realmente. Seu filme é um ensaio sobre um dia que jamais termina. Um filme frio e cru na abordagem da violência não só dos dois garotos que empreendem o tiroteio, mas também da violência dos demais alunos e da instituição escolar para com eles.


Elefante: Ensaio sobre os valores da sociedade americana


Elefante é uma experiência cinematográfica fortíssima e acho que pouca gente viu. Passeando com sua câmera por diversos personagens, o diretor consegue nos fazer pensar sobre a fratura de valores que regem o âmago da sociedade americana. Os EUA é diagnosticado como um país doente por dentro. Aluguem!

16 de abr. de 2007

Cine Brasil

Hoje passou na Tela Quente o filme Olga, do Jayme Monjardim. Vocês já devem saber que o filme é o horror do horror e nem vale a pena falar dele aqui. Novelão puro. Mas queria aproveitar para falar de um assunto um pouco mais amplo.

Não vejo muito tv, mas em compensação gosto de ler sobre quase tudo que sai no jornal sobre o tema. Os programas de maior ibope, as polêmicas do momento, etc. Televisão tem uma importância impressionante na nossa cultura, e acho que vale a pena estar por dentro do que se passa...

Li recentemente que os filmes brasileiros que passam na Globo costumam ter um ibope bem superior a muitos filmes estrangeiros que preenchem o horário. O “Festival Brasil” da emissora é hoje um grande chamariz para vendas de espaço publicitário.

Isso dá o que pensar. O cinema brasileiro é há muito tempo estrangeiro em seu próprio país, com seu mercado dominado pelo cinema americano. Nossos filmes não se pagam na bilheteria. 99% deles são realizados com auxílio de dinheiro público. Nosso dinheiro...

Mas se na tv aberta o filme brasileiro tem tanta atenção do público, por que é tão difícil acontecer o mesmo nas salas de cinema?

Dizer que filme brasileiro é ruim ou mesmo mal feito costumam ser dizeres de gente bem ignorante e/ou preconceituosa. O cinema brasileiro há muito tempo alcançou maturidade tanto técnica quanto artística, e só não enxerga isso quem não quer. Não creio que esse tipo de pensamento ainda permeia uma grande parcela do publico.

"Para quem se faz hoje cinema no Brasil?"

Por tudo isso, acredito que um dos principais motivos para essa contradição, de o filme brasileiro ter um público cativo na tv e muitas vezes não no cinema, é uma questão em grande parte econômica. Só classe média e alta tem hoje condições de ir ao cinema com freqüência. O ingresso é caríssimo.

Para quem se faz hoje cinema no Brasil? Toda a nação paga pelo filme, mas só um grupinho acaba vendo o resultado. Faz-se urgente a criação de um circuito de cinema popular! De rua, fora dos grandes Shoppings!

Grande parte da sociedade que dá o alto ibope para o filme na tv não tem condições de ver o mesmo filme no cinema. Faltam salas, melhoras na distribuição dos filmes, e principalmente vontade política de um governo que parece ver o País de camarote.

O Brasil também quer se ver na tela grande, e não só entre o Jornal Nacional e o Big Brother.

15 de abr. de 2007

300 (2)

Lá vamos nós de novo. Gostaria de voltar aos 300. Primeiramente pelo grande número de comentários que gerou o primeiro post sobre o filme, e também por uma observação que fez meu grande amigo, Márcio Lopes.

Ah, já vou desde já esclarecendo que esse texto não é uma tentativa de me redimir em relação ao filme. Achei todos os comentários contrários ao meu ponto de vista bem pertinentes, mas minha opinião sobre o filme continua...

Porém, para não parecer que não gostei de NADA no filme, quero escrever sobre algo que pensei logo quando vi 300, mas acabou não entrando no meu primeiro texto.

Como lembrou meu amigo Márcio, a história é contada por um narrador. Mas não um narrador qualquer, ele na verdade foi um participante direto na luta contra os persas e companheiro próximo do rei Leônidas. O que pretendo ressaltar é que não é toa que tudo no filme soe tão exagerado, desde o número de persas, até a valentia do 300, etc. Há uma razão muito coerente para tudo isso. E quero reconhecê-la aqui.

Dentre as (poucas) coisas que gosto no grafic novel original são os momentos em que o “contador de histórias oficial” da tropa os envolve com as mais cativantes aventuras sobre os espartanos e o seu rei Leônidas. É assim que se criam os mitos, e é onde o recorte subjetivo de um indivíduo acaba se sobrepondo à verdade dos fatos.

O rei Leônidas quer virar mito poupando o personagem do “historiador”

O rei Leônidas sabe disso, e quer virar mito poupando o personagem do “historiador” da morte certa, já no final do filme. “Alguém têm que ficar para contar a história...”. Teríamos a existência desse filme se antes não tivéssemos as palavras de Heródoto em louvor a aqueles espartanos?

Por mais que fique incomodado com todo aquele sangue e exagero todo, sei que por trás há um sentido interessante. Aquela história é fruto do envolvimento pessoal de um soldado, e não importa que ela seja factualmente verdade ou não, mais importa que ela se torne inspiração para os demais espartanos. Toda a história sobre os 300 de Esparta não precisa ser verdade. Precisa ser a verdade somente para aqueles soldados. É o seu mito.

Toda nação cria e necessita de referências para sua história. Aqueles espartanos, na figura daquele narrador-sobrevivente, criaram um mito sobre a batalha contra Xerxes e o que vemos em excessos na tela é conseqüência de uma parcialidade, de uma intenção maior por trás daquilo tudo...

Acho isso bem bacana, até bonito...

13 de abr. de 2007

Santiago - Trailer

Vi o último documentário de João Moreira Salles no recém terminado É tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários. Ele vai demorar ainda um pouco para estrear, mas é um filme que tanto me impressionou que quero fazer uma publicidade de graça aqui para o filme.

Santiago entrará para história do documentário brasileiro! João Salles é diretor de Notícias de uma Guerra Particular, Nelson Freire e outros. Mas aqui ele chega à maturidade como artista e, arrisco, como ser humano!

Obrigatório!

Lost


Tudo bem. Sei que Televisão não é Cinema, mas alguns programas têm alcançado um grau tão alto de sofisticação na linguagem e produção, que chegam até a ser melhores que muito filme pensado para a tela grande. Lost não deixa de servir aos códigos da telinha, mas pelas suas qualidades vale a pena lhe dar uma notinha.

Não me chamaria de “fã” da série, mas gosto de muita coisa em Lost. Vi a 1º. e a 2º temporada há algum tempo e estou esperando as barraquinhas de DVD pirata da Paulista terem a 3º completa para poder seguir acompanhando. Por acaso, tive essa semana a oportunidade de rever alguns dos episódios da 1º. Temporada. E notifiquei: Como a série se perdeu ao longo do tempo.

Acho que a maioria dos fãs está mais interessada em solucionar os mistérios da ilha: “o que ouve com o corpo do pai do Jack?”. “quem são os outros?”, etc. Mas o que faz o sucesso de uma série, não importa de que gênero, é a construção e desenvolvimento de seus personagens. Temos que nos identificar com seus dramas para que possamos torcer e nos emocionar com eles. E nesse aspecto a primeira temporada é primorosa. A ambigüidade de Sawyer, a complexidade da Kate, os dilemas morais de Sayid...

Infelizmente tudo se diluiu muito ao longo da série. O drama foi suprimido por um suspense quase novelesco.

Mas esperemos com otimismo a 3º temporada...

11 de abr. de 2007

Cartola!

Acabo de chegar da sessão das 22:00h do Espaço Unibanco. Quem me dera se desse sempre para, logo após de ver o filme, já escrever sobre ele com as impressões do filme ainda tão frescas na mente... Mas a vida é uma correria da gota e pequenos prazeresessecostumam ser exceções...

Já virou senso comum dizer quão estimulante é o momento para o cinema documentário, não só no Brasil, mas no Mundo. A sala em que vi o filme estava bem cheia, quase lotada. Em plena quarta-feira e às 22:00h! Tudo bem que hoje todo mundo paga meia-entrada, mas dando uma rápida olhada no perfil financeiro do público, pagar ou não pagar meia-entrada não parecia fator principal para ir ou não ao cinema.

Cartola é um protótipo do tipo de documentário que cresce cada vez mais. Um filme que margeia as fronteiras do documentário e da ficção. Este sincretismo de linguagem pode ser ilustrado pela história e filmografia do diretor do filme. O pernambucano Lírio Ferreira (Hilton Lacerda co-dirige o filme) não é um “documentarista”. Ele é um cineasta, simplesmente.

Após Baile Perfumando e Árido Movie, Lírio parece não ter dificuldade em se aventurar no campo do documentário. Neste exato momento ele finaliza as filmagens de mais um documentário sobre um músico: Humberto Teixeira, parceiro de Luiz Gonzaga, também um dos criadores do baião.

Cartola é muito mais um filme de “impressões” do que “informações”. Isso é excelente porque desmonta alguns mitos do documentário que vire e mexe assombram os próprios diretores de não - ficção . Aquilo de achar que informação pelo discurso falado é a melhor forma de aproximar o público de seu personagem ou assunto principal do filme. Acho que esse tipo de recurso (letreiros, muitas falação) mais afasta do que educa o espectador.


Com Dona Zica, seu último grande amor

Não me lembro de ter visto uma só indicação de data no material de arquivo do filme. E está corretíssimo! Encher um filme de datas e letreiros é muitas vezes desconfiar da força da imagem e do som. Desconfiar do próprio Cinema.

O filme é todo fragmentado, talvez por isso sempre tão estimulante. Os diretores acreditam na inteligência do público e passeiam pelas imagens de arquivo e antigos filmes de ficção com maestria. E esse material não serve como simples ilustração ou comentário, mas têm valor por si só. Eles muito nos acrescentam para a compreensão de uma época ou de um momento específico na história.

O personagem principal do filme claro que é Cartola, mas falar do melancólico sambista é oportunidade para rememorar as origens do samba, das escolas cariocas, da MPB!

Um belo filme. Quero revê-lo e com certeza voltar a ele mais uma vez. Cartola é um filme muito rico e abre muitos leques. Mas por hoje está bom...

10 de abr. de 2007

Pequena Miss Sunshine e a América de Bush

“A vida é um grande concurso de beleza”

A primeira vez que vi esse filme nem foi com grandes expectativas. Sabia que era um filme independente e de seu sucesso no festival de Sundance. Mas na época nem se falava em possível indicação ao Oscar, muito menos numa possibilidade de vitória em alguma categoria. Hoje sou um entusiasmado pelo filme, sempre sugerindo aos amigos que o vejam. E compartilho aqui algumas dessas razões.

Pequena Miss Sunshine à primeira vista parece que pode seguir por um caminho convencional de “família desajustada que se redime ao longo da estrada”, como uma boa sessão da tarde. Mas mesmo utilizando algum desses clichês, os diretores de alguma forma subvertem esses mesmos fazendo um dos filmes mais encantadores dessa última safra do cinema americano!

É impossível resistir ao encanto de cada um daqueles personagens. O filme começa mostrando quão desunidos todos eles são, até que surge a oportunidade de levar a filha de 7 anos para participar de um concurso de misses infantil. E aí surge a oportunidade para essa família reencontrar os seus laços.

“O inferno está em nossas famílias” disse certa vez Nelson Rodrigues. E realmente só nós sabemos o que pode se passar dentro das nossas quatro paredes. A Kombi amarela usada para alcançar o destino final serve como metáfora e catalisador para a união desse pequeno clã.

Kombi como metáfora para a união da família
Além de tudo isso, acredito que dentro dessa aparentemente inofensiva jornada familiar há uma nítida crítica à sociedade americana, e talvez ainda um sério alerta para esse mundo globalizado em que sobrevivemos. Explico:

O concurso de beleza infantil mostrado no filme nada mais é do que um universo de competição e esterilidade como é qualquer cotidiano de uma grande empresa ou banco. Tão desumano como uma dinâmica de grupo que temos que participar para conseguir uma vaga de emprego.

A obsessão pelo sucesso e pelo dinheiro é a ideologia introjetada nos corações e mentes do nosso milênio.

“A vida é um grande concurso de beleza” diz o filho mais velho do casal, que sonhava em entrar na força aérea. Digo que o Mundo se tornou um grande concurso de beleza! Competitivo, falso, cheio de aparências, sem conteúdo ou humanidade.

Toda a família no final do filme subindo naquele palco, dançando e rebolando de maneira tão anárquica é uma subversão não só àquele concurso de beleza, mas à forma de pensamento predominante no american-way-of-life.

Depois de ser relançado am algumas salas após sua vitória no Oscar nas categorias de Roteiro Original e Ator Coadjuvante (Alan Arkin), o filme acaba de sair nas locadoras.

Alugue! Eis uma pérola que diverte e também faz pensar...

9 de abr. de 2007

300

Frases de efeito, sangue jorrando e muita testosterona

Falar mal é até mais fácil, mas talvez não enriqueça muito este espaço. Então serei breve. Não gostei quase de nada de 300! “Filmeco”, como diria meu pai.

É realmente uma façanha estética digna de nota, mas totalmente vazia de significado. E não é nenhum tipo de preconceito com o cinema-pipoca. Este blog não é só para filmes cults. Mas acho que diversão desprovida de massa cinzenta pode realmente emburrecer e nos alienar.

Visando me “preparar” para a estréia do filme, peguei até emprestado de um amigo o grafic novel original do Frank Miller. Mas o filme é tão ruim quanto a revista. Os espartanos são transformados em uma “gang” militar e os persas são a quadrilha rival que quer tomar um pedaço da “boca”.

Frases de efeito, sangue jorrando na tela e muita, mas muita testosterona. A platéia claro que adora, mas juro que em algumas partes do filme vi pessoas do público rindo de tão ridículo que a cena era, ou de tão patético que era um discurso de Leônidas aos seus 300.

Ah, e Rodrigo Santoro se vira muito bem como rei Xerxes. Verdade. Creio que precisa de muito talento para fazer um filme todo sobre um fundo azul, e ainda assim conseguir tirar uma boa interpretação. O filme está indo tão bem que os magnatas-executivos já estão pensando em uma continuação para o filme...

Socorro!

8 de abr. de 2007

Scoop!

Quem me conhece bem sabe que eu sou fã de carteirinha do cinema do Woody Allen. Mas acho que sou um admirador que reconhece que seu admirado pode passar por momentos menores de inspiração e realização.

Scoop – O Grande furo, seu último filme, está longe de ser uma obra-prima. Admito. Mas diverte, e um filme mediano de Allen costuma estar bem acima da média do que costuma estar em cartaz.

Este é seu segundo filme que se passa em Londres. O primeiro, vocês sabem, foi Match Point. De maneira agora bem mais leve, Scoop continua a criticar e ironizar a sociedade inglesa em suas convenções e refinamentos.

Match Point era também uma sombria reflexão sobre responsabilidade moral, justiça, sorte... Temas caros desde longa data ao cinema do diretor, tanto em seus dramas como em suas comédias. E sobre esse ponto gostaria de registrar neste Blog algo que realmente acredito.

Allen é um dos maiores diretores americanos em atividade. Não só um diretor, mas um “autor” de cinema. Para essa designação entende-se um artista que têm algo a dizer e que o faz com estilo e coerência. Digo isso porque me surpreendi com o seguinte trecho de abertura da crítica de Inácio Araújo, crítico da Folha de São Paulo, escrito quando da estréia do filme:

Woody Allen são pelo menos dois. Existe aquele cineasta grave, intelectual, que pode se inspirar em Dostoiévski ou Bergman e parece viver preocupado com o lugar que a história do cinema lhe reservará. E existe o Woody Allen que não esquece sua origem de comediante e gosta de se divertir enquanto filma”.

Não quero parecer arrogante, mas acho essa uma das afirmações mais descabidas que pode haver sobre o cineasta nascido no Brooklin. Woody Allen é um só! Não importa se é num drama ou comédia, as inquietações sobre o mundo e a necessidade de transmiti-las em seus filmes vêm do mesmo artista!

O próprio diretor em seu Melinda e Melinda já havia refletido de qual tênue poder ser a linha entre drama e comédia. Hannah e suas Irmãs, por exemplo, fala de morte, sentido da vida, etc. E o filme não deixa de ser uma comédia!



Allen não se “transvesti” de uma hora para a outra de comediante para “diretor sério”

Também duvido muito que Woody Allen faça filmes mais “graves”, como A Outra, “preocupado com o lugar que a história do cinema lhe reservará”. Fazer comédias ligeiras como Scoop é justamente uma prova de não estar nada preocupado com isso.

O artista é um só, repito. Muitas vezes com diversas fases, de momentos de apogeu ou decadência. Mas cada gênero lhe serve como forma de expressão dependendo somente de como quer refletir sobre determinado assunto. Allen não se “transvesti” de uma hora para a outra de comediante para “diretor sério”.
Pode ser crítico da Folha, mas escreve muita asneira...

7 de abr. de 2007

A redenção de Maria Antonieta... e Sofia


O novo filme de Sofia Coppola é antes tudo uma tentativa de redimir a figura da monarca francesa. Livros de História ao longo de décadas pintaram uma Maria Antonieta alienada e fútil. Mais mergulhada em seu hedonismo real do que qualquer assunto de Estado.

A jovem diretora vem tentar desfazer esse mito. Sua Antonieta é uma adolescente que sim, cai muitas vezes nos prazeres da corte, mas que se transforma com o tempo em uma mulher mais madura e, porque não, mais “ilustrada”. (lembrem da cena em que ela lê em voz alta textos de Rousseau...).

Não sou muito fã dos dois primeiros filmes de Sofia. Virgens Suicidas e Encontros e Desencontros me parecem um pouco ingênuos. Uma abordagem quase adolescente de ver e sentir o mundo. Mas se a proposta do seu mais novo filme já é mostrar a jornada de amadurecimento daquela rainha, Sofia prova-se aqui também uma mulher/diretora ousada e original.

Li e ouvi muitas críticas quanto à trilha de rock que pontua diversas passagens do filme. Mas é justamente aí que se têm uma das maiores virtudes de Maria Antonieta. A personagem principal viveu há séculos atrás, porém Sofia quer nos fazer pensar sobre o quê aquela rainha pode nos dizer nos dias de hoje!

O rock anos 80 como trilha de fundo da corte de Versalhes colabora também para um instigante anti-ilusionismo. Como se a música moderna naquele ambiente de Antigo Regime estivesse sempre nos lembrando que é um filme que estamos vendo na tela e não a “realidade”. Que é uma representação, ou melhor, que é uma visão pessoal sobre a vida de Antonieta... Acho isso genial e muito corajoso.

A filha do grande Coppola sabe o que faz. Temos aqui um filme muito bem pensado e acabado. E para mim, que não gosto quase nada dos filmes anteriores da diretora, esse seu novo filme me faz olhar sua carreira com muito mais cuidado e respeito...

6 de abr. de 2007

O Bom Pastor

"Tudo se esvai na vida de Edward Wilson."

Revi ontem á noite o filme do Robert De Niro. Gostei muito na primeira vez que assisti e achei que ele merecia uma segunda olhada na tela grande, assim como merece todo o grande filme, e “O Bom Pastor” é sim um grande filme!

Saí do cinema com a mesma impressão que tive da primeira vez. “Bom Pastor” é um filme extremamente doloroso. Triste demais.

Pra quem ainda não viu, o filme conta o surgimento da CIA por meio da história de um de seus integrantes, Edward Wilson, personagem interpretado por Matt Damon. É um filme sobre perdas. Esposa, filho, amigos... Tudo se esvai na vida de Edward Wilson.

Muitos filmes já falaram sobre o conflito entre Indivíduo X Instituição, e o cinema costumeiro de Hollywood tende a optar pela vitória do primeiro. Que aparece normalmente na figura de um herói no qual podemos nos projetar.

Mas não temos aqui um herói à James Bond, mas sim a desmistificação da figura do agente. O personagem de Matt Damon é destruído interiormente pela instituição americana em que trabalha. Edward transforma-se em uma “não-pessoa”. Incapaz de amar, de confiar. De ser tudo o que seu pai, figura central para compreensão do personagem, queria que ele fosse.

Anos passam na vida desse homem e é incrível como sua figura vai minguando ao longo do tempo. E para essa constatação é imprescindível uma interpretação como a de Matt Damon, brilhante e minimalista. Damon se redime de sua fama de enganador. O rapaz é bom!

O filme me entristece, creio, pelo mesmo motivo que Michael Corleone de o “Poderoso Chefão” mexe tanto comigo. São dois personagens que perdem o que mais amam por um falso ideal. Por suas erradas decisões na vida. Tiveram uma vida que “poderia ter sido e que não foi...”.

Não desprezem “O Bom Pastor!” Se não der pra ver no cinema, pegue na locadora...

3 de abr. de 2007

Declaração de Princípios!

Este é o primeiro post-teste deste Blog! Que eu espero que seja um local de reflexão sobre o que é, pelo menos pra mim, a mais bela das Artes!

O poeta Ferreira Gullar, em entrevista à Tv Cultura, disse que é uma tremenda bobagem escolher uma arte em detrimento de outra. Como se existisse uma hierarquia entre elas. Claro que não há. Mas, ele mesmo disse na ocasião, identificamo-nos mais com umas do que outras.
CINEMATÓGRAFO! Achei um bom título para o blog. Cinematógrafo foi o nome dado pelos irmãos Lumiere à seu "invento cientifico" em 1895...

Falar em Cinematógrafo me fez também lembrar do grande Bresson que assim chamava a arte que havia escolhido para se expressar. Ele buscava a especificidade do Cinema, algo que, para ele, não havia sido alcançado por seus contemporâneos diretores que tinham em seus filmes somente " teatro-filmado", que não chegava à essência do Cinema (Cinematógrafo).

Em sua homenagem, e como registro nesse post-test. Segue alguns princípios de Robert Bresson, publicados em livro pela Iluminárias há algum tempo, e que recomendo a leitura a todos que , como eu, são dependentes dessa arte que tanto nos toca e humaniza.

vida longa ao BLOG! http://cineverdade.blogspot.com/

" O CINEMATÓGRAFO É UMA ESCRITA COM IMAGENS EM MOVIMENTO E SONS".

" O CAMPO DO CINEMATÓGRAFO É INCOMENSURÁVEL. ELE DÁ A VOCÊ UMA FORÇA ILIMITADA PARA CRIAR".

"CONSTRUA SEU FILME SOBRE O BRANCO, SOBRE O SILÊNCIO E SOBRE A IMOBILIDADE".

Robert Bresson