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29 de mai. de 2009

Budapeste


Preciso ver de novo para consolidar as impressões que tive, mas à primeira vista achei brilhante o filme dirigido por Walter Carvalho, baseado no livro de Chico Buarque. Não é fácil filmar um romance do compositor. Ruy Guerra (Estorvo) e Monique Goldenberg (Benjamim) já se aventuraram na tarefa, mas Budapeste me parece a melhor reinvenção (“adaptação” não é um bom termo) para cinema de um romance do Chico.

Cinema e Literatura estão sempre em confluência. Duas linguagens distintas, com suas especificidades. E Walter Carvalho domina tão bem seu ofício cinematográfico que traz para a tela o espírito do livro com imenso talento. Filme e livro se complementam. Experiências diferentes e ambas muito prazerosas. Budapeste, filme e livro, expressa dilemas e sensações muito atuais, reflete um pouco como é ser e estar nesse mundo globalizado.

23 de mai. de 2009

CHE - O Argentino

Não me convence o filme de Steven Soderbergh sobre Guevara. Para ser bem sincero, acho Che - O Argentino uma verdadeira canastrice. O já ganhador da Palma de Ouro em Cannes (por Sexo, Mentiras & Videotape) buscou um relato “imparcial” do guerrilheiro, um olhar distanciado sobre a Revolução Cubana. O resultado é um filme frouxo, medíocre. A montagem é uma concha de retalhos, o roteiro uma porção de frases de efeito. A câmera de Soderbergh não tem cumplicidade com seu protagonista, e nem quer ter. Cada plano, cada fala que Benicio Del Toro pronuncia serve para explicitar só uma verdade: “Calma, não estamos tomando partido. Che foi um cara fascinante e tal, mas não somos simpatizantes do cara, não. Este filme é um filme que tenta ser neutro”.

Suspeito que a realização de um filme como este serve apenas como produto para o espectador dito “cult”. Aquele que usa óculos com armação de plástico (preto, de preferência) e paga de intelectual na fila do Espaço Unibanco. Hollywood querendo fazer "filme de arte". Prefiro Walter Salles e seu Diários de Motocicleta. Muito mais cinema, com coragem de assumir para quê veio. Não que Salles tenha feito um filme de esquerda ou algo do tipo. Mas o diretor brasileiro teve peito e assumiu na tela certa solidariedade com o jovem Ernesto Guevara. O Che do Soderbergh não possui coração, nem alma, nem coisa nenhuma.

22 de mai. de 2009

Garota Ideal


Lars (Ryan Goslin) é um jovem pacato e humilde. Cristão tão fervoroso que não perde a primeira missa de domingo. Até aí tudo bem. O problema é que se Lars não possui nenhum desafeto, muito menos possui um colega mais chegado que possa convidar para uma cerveja sexta à noite... Lars é mesmo um solitário total. Tão leigo na arte de se relacionar que rejeita o toque de outro ser humano. São essas as linhas gerais do personagem central de Garota Ideal. Um drama de imensa sensibilidade e com inesperados toques de humor.

Um pouco de compaixão já basta para se deixar envolver pelo longa de estréia do diretor de publicidade Craig Gillespie. A melancolia do personagem principal é tanta que ele decide comprar uma “namorada” pela Internet. Isso mesmo. Por um bom preço e alguns cliques pede pela rede uma rosada boneca plástica. A tal garota ideal. Toda ela seguindo as especificações de Lars: boa largura dos quadris, o perfeito tamanho de busto. Quando sua “companheira” chega pelo correio, se inicia uma curiosa história sobre a solidão e suas tristes consequências.

Um filme bem acabado, competente na escolha dos enquadramentos, econômico na trilha musical. Mas o talento de Ryan Goslin (Lars) se destaca. Um grande ator. E não uso o adjetivo de maneira leviana, não. Desde o pungente Tolerância Zero (The Believer) já dava para notar sua força. O rapaz tem no currículo também uma indicação ao Oscar por Half Nelson (2007), que não chegou a estrear no Brasil. Seu carisma é o “algo a mais” de Garota Ideal.

20 de mai. de 2009

Wilson Simonal - Ninguém sabe o duro que dei


Muitas são as qualidades do documentário sobre o cantor cheio de swing Wilson Simonal. Grande sucesso nos anos 60 e início dos 70, Simonal teve sua carreira manchada por episódios mal explicados na época, que o envolviam em um caso de espancamento e um relacionamento ambíguo com o governo militar. Em pouco menos de 90 minutos o filme consegue dar conta do talento, do carisma e das contradições de Simonal.

Um documentário jovem, dinâmico. Montagem de primeiríssima, exemplar trabalho de pesquisa. Os jovens diretores Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal revisitam com equilíbrio um personagem que viveu tanto o sucesso inebriante como o amargo ostracismo. Um filme que só comprova a força brasileira para a realização de documentários. Wilson Simonal – Ninguém... transpira energia e rebolado, como seu protagonista.