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30 de jun. de 2008

Cinturão Vermelho

Até parece que estou de mau humor. Há tempos que não escrevo uma crítica positiva. Mas a culpa é das estréias e não do meu temperamento, garanto.

David Mamet é um relevante dramaturgo norte-americano que às vezes se aventura na direção cinematográfica. E traz em seu novo filme a história de um herói contemporâneo. Um professor de Jiu-Jitsu que deve manter seus princípios num mundo corrupto e corruptor.

Ética é mesmo um valor em baixa nos costumes, por isso é até saudável ver um artista preocupado em pensar sobre o assunto. Mamet é um praticante da luta marcial que dá pano de fundo ao filme. Ou seja, fala do assunto com conhecimento de causa. Mas o problema do cineasta, e de seu Cinturão Vermelho, é que ele leva muito a sério o que aprendeu na academia. A, digamos, “filosofia” do Jiu-Jitsu que rege o comportamento do protagonista é tão rasa quanto a presente naquela outra série sobre artes marciais, Karate Kid.

E, como se não bastasse essa tábula rasa ideológica, Cinturão Vermelho possui o mesmo paradoxo que havia nos filmes do Daniel San, Sr. Miyagi e companhia: Durante todo o filme o herói diz veementemente “não” à violência, só que no final da trama não resta outra alternativa ao indivíduo senão entrar na pancadaria. Satisfazendo assim o clímax do filme e a catarse da platéia. Meu caro Mamet, me engana que eu gosto...

Ah, quanto ao desempenho dos brasileiros Alice Braga e Rodrigo Santoro. A sobrinha da Sônia continua uma graça e muito talentosa. O galã melhorou seu inglês e convence bem como um dos vilões. Em breve os dois devem aparecer em outras produções gringas. Pois é, meus amigos. Globalização.

17 de jun. de 2008

Fim dos Tempos

M. Night Shyamalan, uma das mentes mais originais do cinema norte-americano, pode ter afundado para sempre sua carreira. O dano pode ser irreparável. Fim dos Tempos é um grande equívoco dentro de uma filmografia mais que respeitável. A pior obra do diretor.

Desde o fracasso de seu último filme, A Dama da Água, a expectativa e a necessidade de um outro sucesso nas bilheterias se fazia imperativo para Shyamalan. Mas duvido que seu filme faça boa carreira nos cinemas. A idéia de Fim dos Tempos é até engenhosa: Uma substância tóxica surge não se sabe de onde, e impede que as defesas naturais do ser humano atuem. As pessoas começam então a cometer suicídios em massa.

Os primeiros cinco minutos são eletrizantes. O diretor de origem indiana é um discípulo de Hitchcock e filma muito bem, sabe criar tensão com sua câmera. O que atrapalha o restante dos noventa minutos de filme é que Shyamalan, além de ser influenciado pelo mestre do suspense, também é um grande tiete do cinema de Steven Spielberg e acaba adotando para si as mais duvidosas qualidades dos filmes do diretor de ET: Sentimentalismo barato, excesso de simplificações e o anseio em colocar no altar os valores da família.


Desde meados dos anos setenta, o cinema catástrofe tornou-se um gênero constante em Hollywood. Após o 11 de setembro, junto com os alertas quanto ao aquecimento do planeta, filmes do gênero voltaram a pipocar aos montes. Shyamalan com este filme se junta a essa trupe do ecologicamente correto e de crítica à paranóia americana, mas sem eficácia alguma.

O diretor costuma utilizar metáforas em suas obras para expor sua autoralidade, seu ponto de vista. Mas em Fim dos Tempos tudo é muito óbvio, raso demais. O que falta de complexidade sobra em concessões para o grande público que busca ir ao cinema para alienar seus neurônios. Algumas cenas lembram o pior do filme B e de horror. Não dá para levar a sério. Parece que o homem desistiu de ser o cineasta instigante que era.

Um filme pretensioso (no mal sentido de termo), terrivelmente interpretado (Nem Mark Wahlberg se salva) e quase grotesco em algumas cenas de suicídio. Incerto é o destino de M. Night Shyamalan na cova dos leões da indústria de Hollywood. Espero que não, mas talvez esteja próximo o fim de seu tempo...

8 de jun. de 2008

Um Amor para Toda a Vida

Muito temeroso, fui dar uma chance para o novo filme do ator e diretor britânico Richard Attenborough. Ele é o mesmo diretor de Gandhi, Um Grito de Liberdade e Chaplin. Filmes medianos, não gosto particularmente de nenhum deles. Todos exemplos daquelas biografias padronizadas que Hollywood adora fazer.

Bem, depois de quinze minutos de filme o temor inicial se transformou em um remorso doloroso. Êta, filme ruim! Attenborough costuma exagerar no sentimentalismo, mas neste Um Amor para Toda a Vida ele passou da medida do quanto de melação, frases feitas e música adocicada um espectador pode agüentar numa sessão de cinema. Nem mesmo os veteranos Christopher Plummer e Shirley Maclaine ajudam o filme a não naufragar por completo.

Há muitos filmes em Um Amor para Toda a Vida, pelo menos uns três diferentes. Muitos temas que esse diretor já octogenário - Em agosto ele completa 85 – busca desenvolver sem alcançar nem mesmo a mediocridade. Pelo seu próprio bem, leitor, passe longe deste novelão. Economize seu salário. Nem na tela pequena da tv um horror desses deve se sustentar.

3 de jun. de 2008

O Melhor Amigo da Noiva


A comédia romântica é hoje um dos gêneros mais consolidados do cinema norte-americano. A cada fim de semana um novo exemplar chega aos cinemas. E isso vem de longe. Em 1935 Frank Capra vencia os Oscars de melhor filme e direção com Aconteceu naquela noite, um exemplo quase paradigmático do tipo de comédia que se faz até a atualidade.

Gosto demais de acompanhar esses filmes, um pouco por falarem de amor, relacionamentos e ter, em 99% dos casos, um inevitável final feliz. Vejo por distração, às vezes por puro escapismo mesmo. Mas o que não impede de aqui e ali encontrar exemplos não só de simples diversão, mas filmes que possuem talento, inteligência e assim se diferenciam do mais do mesmo.

O Melhor Amigo da Noiva é uma surpresa e tanto nesse sentido. Histórias como a deste filme são contadas o tempo todo, mas sua graça, junto com o carisma de seus atores pode oferecer ao espectador uma experiência encantadora e muito engraçada. Cinema pra mim é um só. Não existe em minha concepção algo como “cinema de arte”. Há vida inteligente em Hollywood e eu não sou o primeiro a dizer isso.

Os “produtos” cinematográficos claro que existem, porém em meio a um oceano de mediocridade se pode enxergar exemplos diferenciados como este O Melhor Amigo da Noiva. Vale a pena passar por cima do preconceito e dar uma chance a um filme previsível, mas rico em observações humanas.