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29 de out. de 2008

O Aborto dos Outros

Um tema delicado. Não só quando tratado num documentário como este, mas o aborto é questão que gera debates acalorados em qualquer instância. A jovem diretora brasileira Carla Gallo lida com sensibilidade um assunto tão espinhoso. E além do tema propriamente dito, o aborto, Carla realizou uma obra sobre a mulher e seus dilemas com a maternidade. O que enriquece o valor de seu filme.
Tendo como linha mestra entrevistas com mulheres que passaram pela experiência em hospitais públicos - previstos em lei ou autorizados judicialmente - , o filme também denuncia as condições de abortos clandestinos.

O Aborto dos Outros defende de maneira clara, mas não panfletária, uma postura pró-aborto. Nos momentos finais do documentário, “autoridades” no assunto ratificam o ponto de vista da diretora a favor da urgência de uma política mais adequada sobre a questão no Brasil. Mesmo um tanto irregular, é filme que vale ser visto. De linguagem seca e dura, mas que possui em sua essência humanidade e humanismo.

HSBC Belas Artes – 14:10h.

13 de out. de 2008

Fatal

O melhor filme da diretora catalã Isabela Coitex, seguramente. Após os sensíveis Minha vida sem mim e A vida secreta das palavras, Fatal (Elgy), baseado no romance do norte-americano Philip Roth (Dying Animal) continua a falar daquilo que mais atrai a cineasta: Relacionamentos humanos.

David Kepesh (Ben Kingsley) é o renomado professor de literatura que vive os dilemas do envelhecimento. Aparentemente seguro de si, prefere distância a relacionamentos mais densos até se apaixonar pela jovem aluna Consuela (Penélope Cruz). Promessas de amor versus a inevitabilidade da passagem do tempo afligem esse homem que se achava tão maduro, mas que se descobre ainda um adolescente no desvendar de sua personalidade.

Isabela Coitex é uma artesã de sentimentos. Ela realiza com maestria aquilo que para Walter Benjamim deveria ser a tarefa do narrador, em seu ensaio de mesmo nome: “A antiga coordenação da alma, do olhar e da mão [...] é típica do artesão, e é ela que encontramos sempre, onde quer que a arte de narrar seja praticada. Podemos ir mais longe e perguntar se a relação entre o narrador e sua matéria – a vida humana – não seria ela própria uma relação artesanal. Não seria sua tarefa trabalhar a matéria-prima da experiência – a sua e a dos outros – transformando-a num produto sólido, útil e único?”.

Excelentes interpretações, com destaque para Ben Kingsley, colaboram para que o filme alcance tamanha coesão. Requintes de poesia no tratamento das imagens e a edição leve corroboram para certificar uma maturidade cinematográfica invejável. Vale a pena acompanhar com olhos atentos carreira que voa com nitidez.