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16 de jun. de 2009

NAZISMO EM NOVAS LENTES

DVD

Não precisa de muito esforço para lembrar de algum filme com nazistas na história. Filmes de guerra como “O Resgate do Soldado Ryan” ou histórias de amor como “Casablanca”. A lista de filmes é imensa. Quando o cinema ainda engatinhava, lá nos distantes anos 1930, os três patetas Moe, Larry e Curly adoravam azarar alguns “chucrutes”. Torcer seus narizes, dar ponta pés nos seus traseiros etc. Sacanear um alemão alto, loiro, e ainda por cima nazista (!) era sempre uma boa pedida para as platéias da época. E não só “daquela” época, não. Os alemães que seguiram a retórica de Adolf Hitler foram representados no cinema quase sempre como vilões sádicos, militares brutos e desumanos. O que está em nosso imaginário é algo como “nazista bom é nazista morto”.

Existem razões concretas para que o cinema, principalmente americano, batesse tanto nessa tecla na qual nazista é sinônimo de mal feitor. Afinal, a Alemanha de Hitler foi responsável pelo extermínio de mais de 12 milhões de minorias, entre ciganos, homossexuais e judeus. E a 2º. Guerra Mundial, ocasionada pelos delírios do Terceiro Reich (1933-1945), deixou um saldo total de mais de 50 milhões de mortos.

Mas os nazistas não eram todos iguais. Houve os descontentes com o regime, seres humanos com maior ou menor consciência de seus atos. Essa simplificação, e ás vezes preconceito, de achar que todo nazista era um psicopata em potencial tem mudado ao longo dos anos e dos muitos filmes feitos sobre o assunto.
Sai agora em DVD um conjunto de filmes que buscam melhor entender a os dilemas dos alemães no período hitlerista. Filmes como “Um Homem Bom” e “O Leitor” humanizam seus personagem nazistas, tentam entender suas motivações e angústias. “Operação Valquíria” e “A Espiã” são aventuras mais despretensiosas, mas que bem ilustram aqueles alemães que tiveram uma postura de resistência ao regime. O último dessa leva de lançamentos é “O Menino de pijama listrado”, que revê o tema pelo ponto de vista de uma criança.

Em “Um Homem Bom” temos John Halder (Viggo Mortensen), um professor de literatura que escreve um livro que defende a eutanásia. E assim que o romance é usado pela máquina de propaganda do governo a vida de Halder se transforma imensamente, como também a importância de suas escolhas. Um filme sensível, que comprova o talento do diretor brasileiro Vicente Amorim, em seu primeiro projeto internacional.

“O Leitor” já explora a história de Hanna Schmitz, carcereira de um campo de extermínio interpretada por Kate Winslet (ganhadora do Oscar), para falar sobre justiça e responsabilidade do povo alemão. O filme não justifica a colaboração no Holocausto da personagem de Kate, mas dá ao espectador possibilidades de pensar sobre a culpa da Alemanha como um todo pela “solução final” dada aos judeus.

O foco de “Operação Valquíria” e “A Espiã” é a resistência direta ao regime nazista. No primeiro, temos uma espécie de... “Missão Impossível 4”. Só que com sotaque germânico. Dirigido por Bryan Singer (X-Men 1 e 2), o filme conta a verídica história do coronel Claus von Stauffenberg, interpretado pelo astro Tom Cruise (quem mais?). Indignado com os rumos de seu país sob a ditadura de Hitler, Ethan Hunt, ou melhor, Stauffenberg monta um plano para assassinar o Führer.

Mas como sabemos que Hitler não morreu num atentado, mas suicidou-se ao lado de sua companheira Eva Braun, o filme fica todo meio sem graça. Previsível demais. O que não acontece com as imensas reviravoltas do aventuroso “A Espiã”, ótima diversão orquestrada pelo holandês Paul Verhoeven. Após a morte de sua família, a judia holandesa Rachel (Carice van Houten) pinta seus cabelos de loiro e se infiltra nos ninhos do Reich. Um Indiana Jones de saias e meia calça...

Mas o melhor filme dentre todos esses lançamentos é mesmo “O menino de pijamas listrado”. Bruno, 8 anos, de família aristocrata e pai oficial do exercito, muda-se de Berlin para Auschwitz, um dos maior campos de extermínio construído na Polônia. Lá, Bruno (o sensível Asa Butterfield) inicia por acaso uma bela amizade com um garoto judeu prisioneiro. Com uma bonita fotografia e uma direção competente, o filme emociona. Baseado num best-seller mundial assim como “O caçador de pipas”, “O menino...” procura falar do nazismo através do olhar diferenciado e mais inocente da infância. Bruno vive um inusitado relacionamento num cenário de morte e violência. Bem bonito.

Todos esses filmes ajudam a ver que o ser humano é mais complexo que qualquer definição apressada. Ele é ambíguo, contraditório. O Cinema e o Nazismo com certeza não esgotaram seu relacionamento. Infinitas tramas ainda serão elaboradas, e se elas tentarem compreender com maturidade algo tão insano como o nazismo, todos saem ganhando. O Cinema, o público e a história.

7 de jun. de 2009

A mulher invisível

É. Passatempo ligeiro. Comédia com boas tiradas. E A mulher invisível também não tem pretensão de ser muito mais do que isso, uma leve comédia para sexta à noite. Um filme com tudo que já se espera quando vemos o cartaz do filme. Selton Mello tem o carisma que todo mundo conhece. Luana Piovani é... Bem, digamos que vale a pena vê-la na tela grande. Luis Fernando Veríssimo não é bobo e escolheu uma musa de primeira.

Bom para o cinema nacional que filmes como esse sejam produzidos. Filmes baratos, “artisticamente” despretensiosos. No quesito técnico, o país já possui um grande número de profissionais competentes. Cinegrafistas, editores, técnicos das mais variadas funções necessárias para a feitura de um filme, e é imprescindível a prática constante dessa, digamos, mão de obra especializada. E filmes como o do diretor Cláudio Torres preenche essa função econômica que o cinema deve também ter. Torres vem da publicidade. É um dos sócios da Conspiração. Depois de fazer uma estréia no cinema muito autoral e corajosa (O Redentor, que merece ser visto), o diretor parece agora buscar manter-se ativo com filmes como A mulher invisível, e seu último filme, também uma comédia, A mulher do meu amigo.

A mulher invisível – O “Trailer Final”:

5 de jun. de 2009

FILME PARA HORÁRIO NOBRE

Em tempos de Crise, Hollywood flerta com o Oriente

Quem quer ser milionário?

Às vezes esquecemos que Hollywood não é a maior indústria de cinema do planeta. Os norte-americanos estão em segundo lugar neste rali cinematográfico. A Índia e sua fábrica de musicais carnavalescos está na dianteira já há algum tempo. Bollywood, como é chamada, possui mais espectadores e lucra como nenhuma outra. Mas Hollywood não se deixa vencer e prepara um contra ataque. Sai em busca de novos mercados e parcerias. Daí o grande esforço para transformar “Quem quer ser milionário?” num evento planetário. Mesmo sendo um filme que deixe tanto a desejar.

“Quem quer ser...” é a história de Jamal Malik (Dev Patel), um adolescente que vive numa favela de Mumbai (Índia) e vira celebridade instantânea ao participar de um programa de perguntas na televisão, à moda de Silvio Santos e seu falecido Show do Milhão. A participação de Jamal no game é o eixo da trama, que vai e volta no tempo com certa criatividade. Mas para contar sua história o diretor britânico Danny Boyle escolheu uma linguagem cheia de modismos: câmera na mão, montagem frenética, uma fotografia de alta exposição. Com este filme Boyle só comprova ser um aluno obediente de Fernando Meirelles e seu “Cidade de Deus”.



O filme é uma produção do Reino Unido com um elenco e equipe formada grande parte por indianos, mas com financiamento e distribuição da Fox Searchlight Pictures. O resultado é um filme fraco, no máximo mediano. Mas então como entender sua consagração no Oscar deste ano, tantos prêmios? Difícil explicar se não levarmos em conta o peso mercadológico da coisa toda. Sem um filme mais oportuno para premiar, a Academia celebrou o que mais parece uma boa e velha novela das oito.

Assim como a Glória Perez abusa de fórmulas de teledramaturgia, Boyle fez do seu filme uma insossa coleção de clichês. Vai longe a descarada receita novelesca: um cenário exótico como pano de fundo; mais casal que luta por seu amor impossível; mais uma pitada de crítica social para levantar o “debate” na mídia. Um roteiro que tudo explica e conserta, punindo vilões e consagrando nossos heróis. Sem surpresas ou mal entendidos. Que lindo! Um novo “Romeu & Julieta”, um novo “Titanic”. Mas sem a tragédia no final, claro, ninguém é de ferro. Dá para sair da sala de cinema saltitando alegremente.

Todo esse bêabá melodramático acabou dando seus frutos: Custando somente $15 milhões, o filme arrecadou dez vezes mais com imensa rapidez. Enfileirou na estante oito Oscars, incluindo o de melhor filme e diretor. Acumulou Globos de Ouro, Baftas (o Oscar britânico) e prêmios de sindicatos. Um fenômeno realmente, mas não deixa de ser mais do mesmo. Ultimamente Hollywood carece de novas idéias.

O filme sai agora em DVD, e pode funcionar como passatempo para sábado à noite. Mas uma melhor pedida é optar por filmes mais do início da carreira de Danny Boyle, como “Cova Rasa” e “A Praia”. Filmes mais interessantes. De uma época em que o diretor fazia menos concessões para aos interesses corporativos de Hollywood.

4 de jun. de 2009

Feliz Natal


Tem futuro o agora diretor Selton Mello. Mesmo que seu filme de estréia não seja tão bom. É que em Feliz Natal já se percebe um olhar inquieto, jovem. Vê-se uma sensibilidade diferenciada. Seu filme tem textura, cheiro. Selton se arrisca num trabalho autoral, corajoso. Ainda que cheio de imperfeições.

Lernardo Medeiros (Não por acaso) é o melancólico Caio, funcionário de um ferro velho que volta ao lar depois de um longo tempo distante da casa em que cresceu. Um filho pródigo que remete de alguma forma a André, o garoto transtornado de Lavoura Arcaica, feito por Selton em 2001.

Em Feliz Natal, o ator/diretor procura a si mesmo. “Estamos sempre voltando pra casa”, disse Selton numa entrevista recente. Creio que o jovem ator dá lugar a um homem mais amadurecido, consciente que o cinema serve para jornadas em busca do tempo perdido de nossa infância. A base de tudo. “O menino é pai do homem”, lembrava Machado.

O cinema brasileiro necessita urgentemente de renovação, sangue novo. Novos diretores, por favor. Selton é uma daquelas mentes carismáticas que podem trazer ar fresco a um cinema inconstante e frágil como o nosso.

3 de jun. de 2009

Os falsários


O judeu Salomon Sorowitsch é o mais procurado e exímio falsificador de dinheiro da Alemanha dos anos 1930. Malandro e egoísta, não tem nenhum apego às tradições do povo hebreu. Quando estoura a II Guerra e é cooptado pelos nazistas para produzir libras e dólares falsos em prol do Terceiro Reich, muitos dilemas passam por sua consciência. É esse o eixo central desta produção austro alemã ganhadora do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008.

A maior preocupação do diretor Stefan Ruzowitzky é contar bem sua história. Fica em segundo plano uma construção mais elaborada da trama e dos personagens. Em Os falsários tudo é muito bem explicado, bem até demais. Sobram simplificações e fica faltando criatividade cinematográfica. No final fica valendo mesmo a aula de história, Salomon Sorowitsch e sua habilidade em forjar moedas. O maior caso de falsificação que se tem notícia...

O Holocausto é tema onipresente no cinema. Desde o clássico Noite e Neblina de Alain Resnais, documentário feito logo após a guerra. Os falsários não deve ficar na lista das obras mais memoráveis sobre o tema, não. Mesmo ilustrando um episódio da história visto na tela pela primeria vez.

2 de jun. de 2009

Star Trek

J.J Abrams, a mente por trás de Lost, é o responsável pela reinvenção da franquia criada por Gene Roddenberry no final dos anos 60. E como acontece no seriado que virou fenômeno mundial, e também acontecia no star trek clássico, o novo filme usa com habilidade a viagem no tempo para contar a história dos agora jovenzinhos Kirk, Spock e McCoy.

O filme funciona. Não precisa ser trekkie (nerd que se fantasia para ver o filme) para embarcar na utopia sonhada por Roddenberry: um futuro em que a humanidade alcança a paz na Terra e usa o avanço tecnológico para o bem universal. O novo filme acertou também na escolha do elenco, com menção honrosa para Zachary Quinto no papel de Spock. Ele não possui a densidade que tinha a performance de Leonard Nimoy, claro, mas o garoto segura as pontas muito bem.

1 de jun. de 2009

O curioso caso de Benjamim Button


13 indicações ao Oscar e vencedor em 3 categorias, Benjamin Button conta história de um homem que nasce velho e, misteriosamente, começa a rejuvenescer. Adaptado de um conto de Scott Fitzgerald, o filme erra ao esticar demais uma premissa brilhante. Falta foco ao filme de David Fincher (Zodíaco). Muitos personagens e o abuso de clichês travam o desenvolvimento do enredo.

Não parece o tipo de filme que Fincher dirigiria. Acompanhando uma carreira que inclui os poderosos Seven e Clube da Luta, estranha a falta de personalidade do filme estrelado por Brad Pitt e Cate Blanchet.
O filme tem a “cara de Oscar” (grande produção, astros em papéis dramáticos, um piano tocando na trilha). Desconfio que o filme foi só uma encomenda ao talentoso diretor. Fincher pode muito mais.