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21 de dez. de 2009

A Vida Íntima de Pippa Lee


Ao 50 anos, Pippa Lee possui uma vida confortável. Casa, família e as finanças em ordem. Mas algo lhe falta. Uma insatisfação difícil de esclarecer, o que lhe faz rememorar episódios de sua infância e juventude. Essa é a premissa do morno “A Vida Íntima Pippa Lee”, filme escrito e dirigido por Rebecca Miller e estrelado por Robin Wright Penn (“Forrest Gump”).

Filmes sobre crises existenciais são frequentes. Seja o clássico “Morangos Silvestres” de Ingmar Bergman ou a comédia “Motoqueiros Selvagens”. O tema está sempre em cartaz. Normalmente, o filme começa com o esclarecimento da crise, elucida as razões para o conflito e suas consequências, para depois o protagonista lutar por melhores dias. Ou seja, por ressurreição. Neste “A Vida Íntima...” não é diferente.

Após mudar-se de Nova York para um ambiente mais tranquilo, Pippa começa a desconfiar de si mesma. De seu tom de voz, de seu casamento, etc. Flashbacks começam a esclarecer o espectador sobre seu percurso de vida. Sua mãe foi uma viciada em medicamentos, o que a fez sair de casa precocemente. Na mocidade, envolveu-se com drogas e companhias duvidosas.

Pippa lembra-se que foi “salva” ao conhecer Herb (Alan Arkin). 30 anos mais velho, editor de livros de sucesso que lhe ofereceu a segurança de um casamento convencional. A partir da união, Pippa reconhece que reprimiu muito de si em favor do esposo e dos filhos. A possibilidade de um novo romance com o filho de uma vizinha, interpretado por Keanu Reeves, e a descoberta da infidelidade do marido a ajudam em sua superação e jornada de autoconhecimento.

A narrativa lenta e a montagem redundante não ajudam muito na fruição do filme. O elenco é bom e pode trazer certo alento. Além da talentosa Robin Wright e de seu parceiro de cena Alan Arkin, “A Vida Íntima Pippa Lee” conta com pequenas participações de Winona Ryder, Julianne Moore e Monica Bellucci. Mas o resultado final é monótono e pouco envolvente.

18 de dez. de 2009

Avatar




Ver “Avatar” é uma experiência fascinante, única. Logo nos primeiros minutos de filme o espectador já se dá conta do olhar visionário de Cameron. O filme estreia em 612 salas em todo o País - 500 em 35 mm, 110 em 3D e duas IMAX. É bom que o leitor opte pagar um pouco mais caro para curtir o filme nas salas de três dimensões. Não há como se arrepender.

O filme é deslumbrante como experiência visual, mesmo que force a barra com rasos discursos ecológicos e abuse dos clichês narrativos. Mas já era de se esperar. O diretor de “Titanic”, “O Segredo do Abismo” e “O Exterminador do Futuro” estoura orçamentos para dar vida ao seu imaginário, por isso compensa exagerando em romantismo e maniqueísmo para que seu filme fale a todos os tipo de público.

12 anos depois do fenômeno “Titanic”, Cameron volta à ampliar as fronteiras tecnológicas do cinema, quebrando todos os recordes de orçamento – especula-se que o filme custou entre US$ 380 e US$ 500 milhões – para dar realidade a um mundo fascinante, além da imaginação, como não se via nas telas desde a trilogia “O Senhor dos Anéis”.

O ano é 2154. O planeta Terra encontra na lua de Pandora um mineral raríssimo (“unobtainium”) que pode solucionar os problemas de falta de energia. O problema do governo americano e dos empresários é que a comunidade nativa, os Na’vis, não estão nem um pouco interessados em ver suas terras sagradas serem devastadas por interesses mercadológicos.

Na tentativa de estabelecer um melhor contato com os nativos, é criado o Avatar do título. Trata-se de uma mistura de DNA humano com o dos Na’vis, criaturas com mais três metros de altura, corpo azul e olhos dourados. O fuzileiro naval Jake Scully (o musculoso Sam Worthinghton) é um dos escolhidos para viver “dentro” desses corpos. Mas o que deveria ser uma missão militar transforma-se numa jornada de transformação de consciência. Em sua primeira descida à Pandora, Jake perde-se de seu grupo e tem a oportunidade de conhecer a fundo a cultura e mitologia dos Na’vis.

Naityri (Zoe Saldanha) é a fêmea que guia Jake em seu aprendizado. Filha do líder da tribo, ensina-o a dominar seu corpo, a caçar e, principalmente, compreender a relação simbiôntica que seu povo tem com a floresta que os cerca. Assim como Kevin Costner em “Dança com Lobos”, Jake fará da cultura alheia a sua própria, renegando seus vícios antigos em troca de harmonia interior e a paixão pela bela Naityri.

“Avatar” sugere muitas leituras. A mais imediata remete ao imperialismo norte americano. “Terror luta-se com o terror”, diz um truculento general antes da última investida contra os Na’vis. Quem está no centro das decisões sobre o destino da comunidade de Pandora não gasta tempo compreendendo suas razões e especificidades. Ignorância e preconceito regem suas ações assim como foram os anos Bush.

Um filme suntuoso, envolvente mais pelo seu visual do que seu “conteúdo”. Mas que entrará para a história como um marco no desenvolvimentos de efeitos especiais e o cinema 3D. James Cameron deixou claro em entrevistas que pretende continuar fazendo filmes usando a tecnologia. Agora é esperar se demorará mais 12 anos para a estreia de seu novo projeto.

17 de dez. de 2009

Sinédoque Nova York - DVD


Charlie Kaufman é um roteirista brilhante. Responsável pelo texto de filmes excepcionais como “Quero Ser John Malkovich” e “Adaptação”. “Sinédoque Nova York” é sua primeira experiência na direção. Um drama psicológico profundo e onírico. Philip Seymour Hoffman é Caden Cotard, um dramaturgo que passa décadas escrevendo e reescrevendo uma peça em que tenta compreender a própria vida. Suas frustrações amorosas e existenciais. Caden tem um casamento frustrado com uma artista plástica (Catherine Keener). Ela o abandona e leva junto a filha do casal, Olive. A perda da família é o estopim para seu mergulho autodestrutivo como homem e artista. Até que ponto pode ir um artista na busca de si mesmo? Que filme ou peça de teatro pode comunicar toda a tragédia humana? Essas são as questões centrais do criativo Kaufman. O diretor desenvolve essa jornada existencial misturando sonho e realidade, vida e criação. Um filme ambicioso, com momentos intensos, mesmo que irregular.


15 de dez. de 2009

Katyn - DVD


No ano de 1940, a Polônia sofria a invasão tanto dos nazistas como dos soviéticos. Na floresta de Katyn, 15 mil soldados poloneses foram executados com um tiro na nuca pelo exército de Stálin. Esse trauma nacional é o foco do último filme do grande cineasta polonês Andrzej Wajda (“Cinzas e Diamantes”). Diferentes personagens sofrem as consequências do massacre, a esposa de um dos oficias executados, sua filha e outros. Não há, portanto, um protagonista, senão a própria Polônia e sua história. Assim como “Sunshine” de Istvan Szabó, que contava a história da Hungria através de várias gerações. “Katyn”, porém, não se perde em sua ousadia. Por duas horas mantém seu ritmo e eloquência. A história da Polônia foi determinada pelo triste episódio, já que o governo comunista, que dominou o país após a Segunda Guerra, justificou sua ocupação culpando os nazistas pelas mortes em Katyn. Wajda elucida fatos, usa o cinema para reescrever a história de seu país. Belo filme.


14 de dez. de 2009

A Culpa é do Fidel - DVD


Os conturbados anos 70 vistos pelos olhos de uma garota de 9 anos. Essa é a premissa do ótimo filme de estréia de Julie Gavras (filha de Costa-Gavras). Os pais da pequena Anna (Nina Kervel-Bey) cooperam com as causas de esquerda da época, como a eleição de Salvador Allende e a luta feminista. Homens barbudos e mulheres engajadas começam a frequentar a casa e as concepções de mundo da pequena Anna vão se transformando ao longo do filme. Tudo com a inocência e sabedoria do olhar infantil. Leve e com boas sacadas, “A Culpa é do Fidel” dá um prisma bem humorado sobre um período de radicalização política e transformação cultural. Adaptado livremente do romance “Tutta Colpa di Fidel”, da jornalista italiana Domitilla Calamai que, assim como a diretora Julie Gavras, cresceu num lar de pais comunistas.

9 de dez. de 2009

Procedimento Operacional Padrão - DVD


Depois de conquistar o Oscar com “Sob a Névoa da Guerra”, o documentarista Errol Morris disseca as torturas de soldados americanos contra iraquianos, ocorridas no complexo de Abu Ghraib. Morris faz um cinema investigativo, e vai atrás de todas as provas possíveis para atestar seus pontos de vista. Em “Procedimento Operacional Padrão” o diretor fundamenta seus argumentos a partir das infinitas fotografias que os soldados americanos tiraram de seus atos de barbárie. E que acabaram vazando na internet. Junto com depoimentos dos envolvidos e reconstituições, tem-se um filme contundente e necessário. Mesmo que às vezes artificioso e redundante. Morris comprova que as torturas contra soldados e civis iraquianos não ocorreram por causa de algumas “maçãs podres” do exército americano. Na verdade, toda a instituição militar dos Estados Unidos, de alto a baixo, segue um brutal padrão de conduta e moral.

8 de dez. de 2009

A Questão Humana - DVD


Será que é possível relacionar os atuais métodos de gerenciamento das grandes corporações com as técnicas de extermínio do regime nazista? Nicolas Klotz, diretor de “A Questão Humana”, acredita que sim. Mathieu Almalric (“O Escafandro e a Borboleta”) é Simon, funcionário de uma gigante petroquímica que recebe uma delicada tarefa: Investigar a sanidade de um dos fundadores da empresa, interpretado por Michael Lonsdale (“Munique”). Quanto mais fundo Simon vai em suas investigações, mais sombrio vai ficando a atmosfera do filme e a gravidade de suas descobertas. Baseado no romance homônimo de François Emmanuel, o filme de Klotz desconcerta com sua construção intrigante, que dá pistas, pouco mostra, mas muito provoca. O filme conquistou o prêmio da crítica na 31º. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

7 de dez. de 2009

500 Dias com Ela


Gostei demais. Comédia romântica é gênero que não anda bem das pernas. Clichês e falta de graça predominam nas produções recentes. "500 Dias com Ela" é diferente. Não chega a subverter o gênero, mas traz originalidade, humor e frescor.

Joseph Gordon-Levitt vive Tom, que se apaixona por Summer, sua colega de trabalho intrepretada pela graciosa Zooey Deschanel. O filme é construído de maneira muito livre, não linear, a partir das digressões de Tom, que revisa em flashbacks seu relacionamento que... não teve final feliz. Assim como em "Annie Hall" de Woddy Allen. Aliás, uma referência assumida e muito bem vinda ao filme dirigido pelo estreante Marc Webb.

Os atores mandam muito bem. A trilha é ótima. Vale o ingresso.