“... não tiro a câmera do lugar porque eu acho que o rei é o outro, o rei não é o diretor/artista, não é a câmera; o rei é o outro. [...] Eu quero conhecer a razão do outro, não a minha”. Disse o diretor em depoimento a Cláudio Valentini, no livro O Cinema segundo Eduardo Coutinho.
Terminado o evento, fui conversar com o mestre sobre seu último filme, Moscou, ainda inédito nos cinemas, mas que vi no Festival É tudo verdade. “Diferente do que muita gente pensa, gostei muito do filme”, disse a Coutinho. Descemos juntos pelo elevador. Como mora no Rio, Coutinho estava hospedado num hotel próximo da escola. Humildemente, pedi para caminhar com ele até o local. Duas quadras de caminhada, de conversa descontraída entre pupilo e seu tutor... Que fala pouco, que fala para dentro, mas diz o essencial.
Você tem mesmo uma obsessão pela morte em seus filmes, Coutinho. O fim e o princípio, agora Moscou. Filmes que falam da finitude.
Eu tenho uma obsessão pela morte, sei lá. É o que vale ser filmado. É o que me interessa, que é uma tragédia... O homem é essa coisa: que nasce, vive e sabe que vai morrer... Não dá pra fugir.
Mesmo como todo esse seu mal-humor e ansiedade, você continua optando por projetos de risco. Babilônia 2000, O fim e o Princípio. Filmes que poderiam não acontecer. Por quê essa opção?
Se eu não arriscar. Vou fazer o quê da minha vida?
Tem que se aventurar, então?
Exato.
E essa desconfiança com os intelectuais? De onde vem?
Pela história do século XX... Pela arrogância, sabe? A religião é o ópio do povo... tenho horror disso! Precisa ser tão arrogante?
Mas mesmo assim eles são um auxílio para entender os filmes que fazemos.
É. Eu sei que meu filme não vai passar no sertão da Paraíba. Sei que tem esse fosso, que não dá pra ultrapassar. Então eles ajudam, lógico.
Obrigado pela atenção, Coutinho. Josafá é meu nome. Prazer imenso.
Certo, certo. Até mais. Amanhã tenho um dia de louco...