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31 de jul. de 2009

Kurt Coubain – Retrato de uma Ausência


Um documentário sem entrevistas, reconstituições baratas ou material de arquivo. O que guia este filme é voz confessional de Kurt Coubain, vocalista do grupo Nirvana que se suicidou em 1994. Não se estruturando como a maioria dos documentários clássicos – narração em off, informativo e historicista – Kurt Coubain – Retrato de uma Ausência (Kurt Cobain: About a Son) leva o espectador a uma viagem mais lúdica do que a maioria dos filmes de não ficção. Baseado no livro “Come As You Are: The Story of Nirvana” do jornalista Michael Azerrad, o filme revela conversas gravadas em mais de 25 horas de fitas, nas quais Kurt Cobain relembra a infância, o divórcio dos pais e seus dilemas como celebridade.

O filme dirigido e montado por AJ Schnack é bem rigoroso, busca não reiterar som e imagem, não banalizar sua construção visual somente ilustrando o que é dito pelo cantor. Planos e travellings das cidades de Aberdeen, Olympia e Seattle passam na tela enquanto ouvimos a voz Coubain. Esse conceito de montagem dá margem à imaginação, gera cumplicidade com o espectador e com a história desse roqueiro angustiado, que sempre se viu como um alien nesse mundo tão opressor como o atual. “Já está tudo tão requintado, plagiado”, diz o cantor num momento. Nas falas de Coubain encontramos um homem muito crítico de si e a América onde cresceu. Uma América cheia de feridas e contradições, já criticada por tantos cineastas.

Lembrar da obra do norte-americano Gus Van Sant é bem oportuno para clarear os temas abordados no documentário que estréia nesta sexta. No intrigante Last Days (2005), o diretor já tinha buscado compreender a figura melancólica de Corbain. Em filmes como Elefante (2003) e Paranoid Park (2007), Van Sant investigou também essa angústia que ronda o espírito do adolescente nos Estados Unidos contemporâneo. Um mal estar agregado à pressão escolar, instabilidade na família e muita raiva para extravasar, seja num piano (Elefante), na pista de skate (Paranoid) ou na guitarra punk rock, como foi o caso do jovem Kurt...

Michael Jackson acaba de partir. Juliano Mion, editor aqui do Cine Players refletiu recentemente sobre seu testamento cinematográfico no genial Moonwalker (1988). Com sua morte, vale a pena parar para pensar sobre a obsessão com a beleza e jovialidade que guia nossos corações e mentes. Refletir sobre os dilemas que enfrenta o olimpo das celebridades onde Michael talvez reinasse, e onde outros também já estiveram, como a princesa Diana e John Lennon. Todos mortos precocemente. Todos com suas vidas privadas expostas sem pudor por uma mídia quase tão cruel como um dia foi o Coliseu romano. As palavras de Corbain sobre o assunto são sinceras e virulentas. Nas entrelinhas, Kurt nos diz o que disse Greta Garbo em Grande Hotel (1932), e que marcou para sempre sua vida e autoexílio: “I want to be alone”.

Ao som de David Bowie, R.E.M. e Queen, as influências do cantor, Kurt Coubain - Retrato de uma Ausência é um convite à emoção e a reflexão (com o perdão da rima fácil). O filme começa com um vôo rasante sobre o oceano. Das profundezas, esse homem cheio de dor e arte volta à Terra para deixar parte de suas sensações sobre nosso planeta, que para ele era alienígena. Algo além e complementar às suas canções. De como perdeu a inocência, como foi sua relação com as drogas. Um filme belo e criativo, para fãs e também reticentes ao Nirvana ou ao Rock´n Roll.

http://www.cineplayers.com/

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