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4 de mar. de 2008

Jogos do Poder


Talvez por estarmos sempre criticando a hegemonia de Hollywood em detrimento da nossa cinematografia, às vezes nos esquecemos do grande número de diretores americanos, digamos, mais politizados. Cineastas mais atentos ao que se passa em seu país e no planeta. Após os ataques às torres gêmeas, por exemplo, foi interessante notar o lançamento de diversos filmes que criticavam a política americana e decisões unilaterais de Bush filho.

O excelente Boa noite Boa sorte, de George Clooney, se voltava para um episódio do marcatismo para pôr em cheque a conivência e apatia da mídia norte-americana diante de uma política externa brutal e mentirosa, como também ao risco da perda das liberdades civis e prol de uma causa “patriótica”.

Steven Spielberg, por sua vez, também foi buscar no passado uma história que servisse de lição aos nossos dias de terrorismo. Munique era claramente uma forma de questionar o uso da violência como forma de retaliação e solução pós-ataque terrorista.

E agora chega aos cinemas Jogos do poder, filme que se detém sobre uma das sementes que originaram a era das trevas (para usar o título do novo filme de Denys Arcand) que vivenciamos no jornal diariamente. Tom Hanks interpreta o personagem verídico Charles Wilson, congressista texano que decidiu aumentar consideravelmente o auxílio aos afegãos que lutavam contra a invasão soviética nos anos 80.

As investidas pessoais e manobras políticas de Wilson soam tão inacreditáveis que o diretor Mike Nichols utiliza um tom quase farsesco na primeira metade do filme, justamente a parcela mais desequilibrada de Jogos do poder.

Na segunda metade do filme, Nichols parece deixar mais claro a que veio. O filme ganha ritmo e as cenas de batalha que possuem como fundo musical um trecho do Messias de Handel são, no mínimo, muito boas. E daí em diante o diretor esclarece que sua maior preocupação é jogar luz sobre os erros de uma política externa americana no período de Guerra Fria, que desembocaria no financiamento e fortalecimento da rede terrorista Al-Qaeda.

Mike Nichols é bem melhor em Closer, seu último filme, mas Jogos do poder, mesmo não sendo inteiramente satisfatório, é respeitável por trazer à tona um episódio tão elucidativo sobre os equívocos dos Estados Unidos em sua empreitada de arrogância em relação ao resto do mundo.

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