analy

17 de mar. de 2008

Sicko - S.O.S. Saúde

Deve ter sido um baque bem grande para Michael Moore a vitória para um segundo mandato do presidente George Bush. Fahrenheit 11/09, filme anterior do diretor, nada mais era do que um grande longa panfletário anti-bush. Lembro que no dia seguinte à vitória do republicano, Moore, procurado pela imprensa, decidiu não se manifestar, tão abalado que estava.

Creio que aquela derrota política para o diretor pode também ter afetado seu cinema. Feito-o repensar a eficácia de seus filmes junto ao público médio americano, seu alvo principal. Pensei nisso enquanto via Sicko-S.O.S Saúde, seu novo documentário que estreou na última sexta, no qual investe contra o sistema de saúde americano.

Sicko-S.O.S Saúde é um bom filme, o menos manipulativo dos filmes de Moore, como também o menos jocoso e no qual a sua postura de show man aparece com mais retidão. Na primeira metade do filme a figura inconfundível do cineasta, como sua narração contundente, pouco aparece, deixando que as histórias das pessoas ludibriadas pelos planos de saúde falem por si. São justamente os melhores momentos do filme.

Os grandes pecados, porém, ainda não resolvidos por Moore são o seu sentimentalismo e patriotismo. Por não controlar muito bem a dosagem desses dois elementos, seu filme perde dosagem de sua força. A música melosa sobreposta aos depoimentos soa totalmente desnecessária. Já era tempo de Moore entender isso.

Já fui um crítico mais severo do cinema do diretor, hoje tento ser mais sereno. Michael Moore tem como principal inimigo o poder das corporações e investe na tentativa de desmascará-las ao grande público, o que acho honrável e necessário.

Esse tom mais ameno com que olho seus filmes também vem da consciência mais límpida de que Cinema é linguagem, um exercício de manipulação de imagens e idéias. O Cinema documentário, diferente do que muitas vezes imaginamos, não traz junto de si um atestado de verdade absoluta. Michael Moore se utiliza dessa linguagem como poucos para defender o que acredita. Seus filmes são “a verdade de Michael Moore”, uma opinião que podemos, ou não, acatar.

Bem, num momento histórico em que se impera a ditadura do politicamente correto e do vácuo ideológico, acho imprescindível que um cineasta faça um filme e tenha os colhões necessários para dizer “Eu acredito nisso ou naquilo”. Esse tipo de postura tem muito faltado a cineastas contemporâneos. Para citar um só exemplo: Carandiru de Hector Babenco. Um filme medíocre e sem coragem de assumir a que veio.

8 comentários:

Anônimo disse...

Vejo maior serenidade sua para com o com o Moore.
Parece que os seus negócios estão indo bem!,todavia ainda considero este diretor um pouco irresponsável e não ético.
jamais assistirei,apesar do seu comentário sereno e maduro."oldneo"

Régis disse...

Josafá,

Finalmente te achei na internet.

Me mande um e-mail pra podermos conversar fora do blog (sem prejuízo do mesmo, claro).

Abraços.

Régis.

E o Morricone ontem? Curtiu?

Josa disse...

Caro Régis!

Diferente do nosso amigo Merten, me emocionei muito com o concerto de ontem.

Achei a orquestra tímida na primeira parte, mas na segunda, que eu nem esperava grande coisa, ela se superou. "A Missão" pra mim foi uma coisa de louco...

Não achei nada brega também a música de "Queimada". Fiquei surpreso com a potência do coro brasileiro.

Achei que valeu. A minha expectativa é que o John Williams apareça em breve por aqui...

Segue meu email: josa.veloso@gmail.com

Vou dar uma entreda no "cineplayers" depois com calma. Não se preocupe.

grande abs!

ps; Achei "I`m not there" um filme brilhante. Revi o filme no sábado. Achei a Crítica muito tacanha pra reconhecer suas reais qualidades. Vc já viu?

José C. Violato Gomes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José C. Violato Gomes disse...
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José C. Violato Gomes disse...
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José C. Violato Gomes disse...

Moore não faz documentários (existe documentário isento, ou verdades sob certo ponto de vista usando a linguagem documental?). Talvez faça mesmo panfletos, mas ajuda a refletir e, pelo menos, é escancarado --ao contrário de muitos outros que panfletos que hollywood nos manda!
O Carandiru que me emocionou foi aquele retratado em "O prisioneiro da grade de ferro". Babenco? Pode ser bom, mas nunca consegui gostar dos filmes dele.

Josa disse...

Olá Zécarlos,

Penso que Documentário não é sinônimo de "verdade" ou mesmo de "realidade". É linguagem. Manipulada e sempre manipulável. Concordo com você.

A única "verdade" que há no gênero é a do realizador. Incluindo "O prisioneiro da grade de ferro", que tem a sua força, mas também não é exemplo de isenção ou neutralidade.

abraços.

ps; Dê uma olhada em "Serras da Desordem", ainda em cartaz. Achei um filmaço!