analy

6 de set. de 2008

Nome Próprio (III)

Em Nome Próprio forma e conteúdo andam, na maior parte do tempo, casadas de maneira muito interessante. Sua estética é autoral, feliz, e pouco pedante. Não posso admitir que alguém me diga que talvez Nome Próprio tenha sido realizado para satisfazer o umbigo de Salles. O filme está aberto a se comunicar com aqueles que querem ouvir sua canção. Camila é uma incógnita para o diretor e ele compartilha seus enigmas conosco. Difícil não ver altruísmo nisso.

Assim como em Como nascem os anjos e Nunca fomos tão felizes, filmes anteriores do diretor, Nome Próprio passa-se preponderantemente dentro de uma mesma locação: Um apartamento. Se Camila já cria barreiras para si própria, a claustrofobia de quatro paredes nos leva a um desconforto que é positivo para as intenções do filme. A longa duração de algumas cenas pode mesmo ser interpretado como um “excesso” de Salles, mas esse mesmo excesso colabora para compartilharmos a dor que transborda em Camila.

Algo parecido pode ser dito sobre o teor das interpretações do filme. Leandra Leal me parece realmente irretocável, mas tem sido comum ouvirmos comentários negativos em relação às interpretações do elenco masculino. Elas seriam “over”, exageradas. Penso diferente. Nome Próprio, através principalmente da seqüência final, dá margem para pensarmos que o que vemos no filme nada mais é do que a visão de mundo de Camila. A subjetividade da personagem é a essência do filme!

Não podemos duvidar da inteligência do diretor em querer transformar em proposital um registro de interpretação cheio de singularidade. A chave de interpretação do filme é algo dos mais interessantes na recente cinematografia nacional. Os personagens masculinos são todos um pouco “personagens deles próprios”. Playboys imaturos cheios de grosseria e vaidade. Ora, essas são as máscaras que Camila vê em todos os garotos que conhece. Ficção e “realidade” convergem na mente da protagonista, ela relê o mundo a sua volta.

Camila segue bem as palavras do poeta Ferreira Gullar que não se cansa de dizer: A vida é uma invenção, você escolhe se quer fazer dela uma coisa alegre ou se prefere que seja uma droga. Daí não dá pra deixar de emendar com a já mil vezes repetida frase de Cecília Meireles: A vida só é possível se reinventada. Porque não existe a vida, existe o caos, que você monta como achar melhor...

Há algo do romance Reparação, de Ian McEwan, em Nome Próprio. Algo da jovem Briony Talles em Camila. Quais são os prejuízos do excesso de imaginação? E quanto a mesma imaginação e arte podem auxiliar-nos na “reparação” e reconstrução do mundo, de nós mesmos? Qual a função da arte escrita para Camila se reerguer, se reinventar? Para ela se encontrar como Mulher? ... “O que querem, afinal, as Mulheres?” Freud se perguntava...

Nenhum comentário: