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5 de jun. de 2009

FILME PARA HORÁRIO NOBRE

Em tempos de Crise, Hollywood flerta com o Oriente

Quem quer ser milionário?

Às vezes esquecemos que Hollywood não é a maior indústria de cinema do planeta. Os norte-americanos estão em segundo lugar neste rali cinematográfico. A Índia e sua fábrica de musicais carnavalescos está na dianteira já há algum tempo. Bollywood, como é chamada, possui mais espectadores e lucra como nenhuma outra. Mas Hollywood não se deixa vencer e prepara um contra ataque. Sai em busca de novos mercados e parcerias. Daí o grande esforço para transformar “Quem quer ser milionário?” num evento planetário. Mesmo sendo um filme que deixe tanto a desejar.

“Quem quer ser...” é a história de Jamal Malik (Dev Patel), um adolescente que vive numa favela de Mumbai (Índia) e vira celebridade instantânea ao participar de um programa de perguntas na televisão, à moda de Silvio Santos e seu falecido Show do Milhão. A participação de Jamal no game é o eixo da trama, que vai e volta no tempo com certa criatividade. Mas para contar sua história o diretor britânico Danny Boyle escolheu uma linguagem cheia de modismos: câmera na mão, montagem frenética, uma fotografia de alta exposição. Com este filme Boyle só comprova ser um aluno obediente de Fernando Meirelles e seu “Cidade de Deus”.



O filme é uma produção do Reino Unido com um elenco e equipe formada grande parte por indianos, mas com financiamento e distribuição da Fox Searchlight Pictures. O resultado é um filme fraco, no máximo mediano. Mas então como entender sua consagração no Oscar deste ano, tantos prêmios? Difícil explicar se não levarmos em conta o peso mercadológico da coisa toda. Sem um filme mais oportuno para premiar, a Academia celebrou o que mais parece uma boa e velha novela das oito.

Assim como a Glória Perez abusa de fórmulas de teledramaturgia, Boyle fez do seu filme uma insossa coleção de clichês. Vai longe a descarada receita novelesca: um cenário exótico como pano de fundo; mais casal que luta por seu amor impossível; mais uma pitada de crítica social para levantar o “debate” na mídia. Um roteiro que tudo explica e conserta, punindo vilões e consagrando nossos heróis. Sem surpresas ou mal entendidos. Que lindo! Um novo “Romeu & Julieta”, um novo “Titanic”. Mas sem a tragédia no final, claro, ninguém é de ferro. Dá para sair da sala de cinema saltitando alegremente.

Todo esse bêabá melodramático acabou dando seus frutos: Custando somente $15 milhões, o filme arrecadou dez vezes mais com imensa rapidez. Enfileirou na estante oito Oscars, incluindo o de melhor filme e diretor. Acumulou Globos de Ouro, Baftas (o Oscar britânico) e prêmios de sindicatos. Um fenômeno realmente, mas não deixa de ser mais do mesmo. Ultimamente Hollywood carece de novas idéias.

O filme sai agora em DVD, e pode funcionar como passatempo para sábado à noite. Mas uma melhor pedida é optar por filmes mais do início da carreira de Danny Boyle, como “Cova Rasa” e “A Praia”. Filmes mais interessantes. De uma época em que o diretor fazia menos concessões para aos interesses corporativos de Hollywood.

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