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21 de jul. de 2008

O Cavaleiro das Trevas (I)

A seqüência de Batman Begins é um filme que muito me angustia. Um amigo até pensou que meus suspiros no meio da sessão eram de insatisfação diante do filme. Era justamente o inverso. Batman-O Cavaleiro das Trevas é de uma complexidade e crueza que inquieta todos aqueles que refletem sobre dias tão sombrios, incertos e ambíguos como os nossos.

O brilhante filme de Christopher Nolan é uma aguda reflexão sobre o mundo pós-11 de setembro. Regido pelo medo, intolerância, pela desconfiança perante as instituições, por inimigos invisíveis e incompreensíveis. Um mundo em trevas. Nolan não fez um filme sobre um super-herói, mas sobre qual herói necessitamos, ou devemos (não) ter. É um filme para gente grande, para se ver sem pipoca.

Considerando a complexidade do filme, tentarei fazer um texto um pouco diverso dos que tenho escrito. Ao invés de uma resenha com início, meio e fim, dividirei algumas idéias primeiramente sobre os personagens do filme e depois sobre o que acredito ser seus principais temas.

Batman – No novo filme, ele não pode ser mais o herói forjado no primeiro. Ele deve se reinventar. Sua existência alterou a ordem e dimensão dos problemas de Gotham. O que era originalmente para ser uma “inspiração” de luta do bem e pela justiça foi transfigurado pelos cidadãos em um símbolo quase de revanchismo, de luta com as próprias mãos contra o crime. E, o mais importante, uma luta acima das leis do estado democrático. Batman deve agora lutar contra um estado de coisas do qual ele mesmo é responsável por sua gênese. E a figura e o resultado mais assustador dessa alteração criada pelo próprio herói é o surgimento de um criminoso sem motivações óbvias, um anarquista agente do caos chamado Coringa.

A situação de Batman, portanto, é insustentável. Ele nem inspira, muito menos representa essa sociedade em transformação. Ele é um fora-da-lei. Um milionário excêntrico debaixo de uma fantasia sofisticada. Se o primeiro filme foi sobre a gênese do herói, O Cavaleiro das Trevas é a revisão crítica de sua figura. Como seres pensantes, não podemos aceitar as condutas de Batman como se fosse ele um herói convencional e incorruptível. Em certos momentos suas atitudes podem ser tão questionáveis quanto as do Capitão Nascimento de Tropa de Elite. Os fins justificam os meios? Pergunta Christopher Nolan para nós, espectadores.

Em uma sessão de interrogatório, nosso “herói” esmurra seu depoente em busca de informações. Em outro momento, quebra as pernas do líder da máfia. No clímax do filme, utilizando um recurso tecnológico que nos remete às profecias de Orwel em 1984, Batman abusa de seus poderes subvertendo as liberdades individuais e democráticas. Ele passa a ouvir e vigiar todos os habitantes. Queremos realmente um justiceiro dessa natureza? Ainda resta alguma outra possibilidade para a justiça dentro da lei? O próprio homem-morcego possui distanciamento para enxergar sua postura como duvidosa.

Diante dessa necessidade de repensar seu papel como símbolo, Batman vai a busca de um outro herói possível, mais compatível e competente com a realidade que o cerca. Ele o encontra em Harvey Dent, paladino irrepreensível em busca da justiça.

Como muito bem disse um outro amigo meu, Batman/Bruce talvez nem seja o convencional protagonista do filme. Seu tempo em cena é quase equivalente às demais peças do tabuleiro de Cavaleiro das Trevas como Harvey Dent (a “chave” do filme, como veremos), Coringa e o comissário Gordon. Quatro personagens do filme que tentarei esmiuçar ao longo da semana. Para logo em seguida tentar expor sobre o que acho que são os temas e objetivos deste grande e provocativo filme.

Caro leitor. A ida ao cinema para conferir Cavaleiro das Trevas é quase imperativa. Para mim, a melhor adaptação (subversão?) de um HQ da história do Cinema! Vá ver. E até o próximo post.

6 comentários:

Anônimo disse...

Ah bom Josa!!!
Eu li sobre o seu "recesso" mas depois de assistir o Cavaleiro das Trevas vim aqui conferir. Eu tinha certeza de que não resistiria.
O filme é muito louco, mto bom!!!
Pena que Heath Ledger se foi!! Adorei o Coringa!
Cleide.

Josa disse...

É cleide...

Não resisti. Alguns filmes mexem muito com a gente. É um filmaço da gota, né?

Heath Ledger fez um trabaho autoral, muito impressionate, mesmo.

abraços.

Anônimo disse...

Josinha,

Quer uma ajuda pra colocar pelo menos o Google Analytics aqui no teu blog e ter estatísticas das pessoas que te visitam ?

Eu fico online praticamente o dia todo. ;)

[]'s
Pablo

Josa disse...

oh, plablito!

Eu sou um néscio mexendo com o oráculo GOOGLE...

vou te escreveu. valeu mesmo.

abs!

Yuri Branco disse...

Grande Josa,

um filme para a posteridade...
como dissemos anteriormente, o senão do filme é Rachel, tirando isso eh muito bom. Um roteiro de ponta.
Uma análise da sociedade atual, com uma crítica muito consistente.
Bruce wayne não usa máscara de batman, usa uma máscara de bruce wayne, genial, genial...
vou comentar nos outros post dps...
Dá uma olhada no meu orkut, pus algumas das frases q eu anotei lá...

abraçoes e parabéns pelo comment, mto bom

Josa disse...

É parceiro,

"See, I am not a monster, I'm just ahead of the curve"..

Coringa tirou nosso chão.

abs!