analy

20 de jul. de 2008

O Escafandro e a Borboleta

Toda a regra deve ter sua exceção. Pensava realmente em não escrever em julho, numa tentativa de “desburocratizar” a própria vida. Não ser “síndico de mim mesmo” como dizia Tom Jobim. Mas... nesse meio tempo vi alguns filmes que muito me emocionaram e despertaram o desejo de voltar a este espaço. O anseio por comunicação falou mais alto. Então, estamos de volta! E, por enquanto, sem novos recessos à vista...

O Cinema constantemente é lembrado como uma arte que dá vida aos sonhos, asas à imaginação, etc. Nem sempre essas denominações conferem com os filmes que vemos, principalmente no que se refere ao mundo dos sonhos, ainda tão pouco explorado no Cinema e que parece distante dos planos dos cineastas e do público. Com exceção talvez de David Lynch e seus devotos. Porém filmes como O Escafandro e a Borboleta faz-nos lembrar do grande potencial para representação de nossas fantasias que possui essa arte que ainda engatinha, com míseros 113 anos.

O filme do cineasta, e também pintor, Julian Schnabel conta a fascinante história de Jean-Dominique Bauby. Editor da revista "Elle" francesa que sofreu um derrame deixando todo o seu corpo paralisado. Exceto seu olho esquerdo. Em existência tão enclausurada, que sentido de vida pode alentar tamanha angústia? Jean-Do, como é chamado, se refugiará fundamentalmente em duas ferramentas: A memória e a imaginação. Além disso, se predispõe a escrever um livro sobre sua nova experiência de trancafiado em si mesmo, somente com o piscar de seu olho remanescente.

Os momentos em que embarcamos na imaginação e memória do protagonista são os melhores do filme. São nessas cenas, que nos fazem literalmente “entrar” em Jean-Do, que Schnabel explora com maestria essa certa vocação do Cinema para adentrar na subjetividade e fantasias de seus personagens. Como disse o crítico Daniel Piza, e eu concordo, o filme vai além e é melhor que o próprio livro que deu base ao filme.

A criatividade, a plasticidade das imagens. Tudo coopera para uma experiência de Cinema e de vida de grande intensidade. O Escafandro e a Borboleta nos reconcilia com a grande arte, lembrando a cada plano as imensas possibilidades da linguagem cinematográfica. Tema e forma numa relação simbiôntica e sofisticada, mas nem por isso distante do espectador, pelo contrário.

Lendo a resenha do filme, simplesmente, pode-se ter a errônea impressão de uma obra, digamos, “depressiva”. Um novo Menina de Ouro, por assim dizer. Mas não se engane. O Escafandro e a Borboleta é um recado para a reconstrução e celebração da família, dos amigos, do amor. Das borboletas da vida. Um filmaço. Junto com I´m not there, um dos melhores do ano.

Um comentário:

Anônimo disse...

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