analy

22 de jul. de 2008

O Cavaleiro das Trevas (II)

Coringa - Ele não quer dinheiro, ou mesmo notoriedade. Não é explicável através de uma psicologia barata e reducionista, em que traumas infantis poderiam solucionar tamanha brutalidade. Como Anton Chigurh, o matador interpretado por Javier Bardem em Onde os fracos não tem vez, o Coringa de O Cavaleiro das Trevas não possui origem ou motivações fáceis.

Ele é o agente do caos. Cuja razão de existência é desmascarar a fragilidade da “ordem”. Apontar as feridas abertas como sociedade. Esfregar em nossas faces a linha tênue que separa a normalidade da vilania, o politicamente correto das áreas mais soturnas de nós mesmos. A cena dos barcos, que ele chama de “experimento social”, é o emblema daquilo que também quis fazer Lars Von Trier em seu Dogville: Queimar as cortinas da amabilidade. Desnudar o egoísmo que tem consumido o planeta em tempos globalizados.

Coringa é o lado B do próprio Batman. A face queimada da moeda de Harvey Dent/Duas Caras. Tememos o novo Coringa porque sua retórica é precisa e assustadoramente lógica. Não quero ser mal interpretado, mas acredito que Coringa está longe da “insanidade”. Às vezes ele é são até demais, e é isso que nos amedronta ao ver o filme.

Não há um vilão convencional em O Cavaleiro das Trevas. O filme (o mundo) é bem mais complicado que isso. Coringa é um catalisador, a vanguarda que questiona os valores estabelecidos. No embate final com Batman a câmera vira de ponta cabeça, enquanto Coringa faz seu último discurso a favor da anarquia. Utilizando-se de um recurso de linguagem tão “primário”, Nolan exemplifica com perfeição quem é este homem fantasiado. Aquele que quer virar o mundo de cabeça para baixo. Virá-lo às avessas. Há algo de Antônio das Mortes, o matador de Deus e o Diabo na Terra do Sol em Coringa. Um personagem à frente (fora?) de seu tempo.
Nolan não dá respostas em seu filme, e nem precisa. Batman-O Cavaleiro das Trevas é uma grande provocação pós-moderna para aqueles que vendem a Democracia como o último estágio e possibilidade única de organização política. Disse em post anterior, quando escrevia sobre O Escafandro e a Borboleta, que o Cinema ainda engatinha, com míseros 113 anos. Pois este filme veio à tona para lembrar-nos que a Civilização também dá os seus primeiros passos, e que a Democracia é cheia de fraturas de uma estrutura óssea que pode vir abaixo com um simples “empurrãozinho” deste palhaço macabro.

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