O espírito do livro está no filme. Como deve ser as boas adaptações de livros para as telas, Fernando Meirelles reinventa a obra para manter-se fiel ao autor. Como no livro de Saramago, temos uma fábula contemporânea sobre nossa incapacidade de ver.
A história é tênue. Sem motivo, repentinamente, o mundo está cego. Apenas a personagem de Julianne Moore mantém sua visão. Ela não possui nome ou passado, como todas as demais figuras principais. Um casal, um senhor negro, uma criança...
Meirelles realizou não só um recontar do enredo, mas buscou nas especificidades do cinema realizar uma obra de força em si. Som, música, edição. Artifícios de linguagem que o diretor domina como poucos. A fotografia de César Charlone, que desconstrói a imagem para melhor captar a impressão de perda da visão e a cegueira branca, é corajosa e de personalidade.
Há, sim, problemas de roteiro. Ensaio... é um tanto desequilibrado, principalmente na primeira meia hora de projeção. Nesse início, falta aos personagens despertar a empatia indispensável para nos envolvermos com o que se passa. Mas logo o envolvimento ocorre, junto com a força que o filme possui.
Quase no final do filme, há uma cena emblemática: na cidade já imunda e decadente, a chuva cai. Homens e mulheres se deixam encharcar em busca não só de limpeza, mas de redenção. Em tempos de brutalidade latente, a civilização clama por purificação.
Como no livro de Saramago, deve-se perder a visão para voltar a enxergar. Diz a mulher do médico (persongem de Julianne) para seu esposo, no final do livro: “Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que vem, Cegos que, vendo não vêem”.
A história é tênue. Sem motivo, repentinamente, o mundo está cego. Apenas a personagem de Julianne Moore mantém sua visão. Ela não possui nome ou passado, como todas as demais figuras principais. Um casal, um senhor negro, uma criança...
Meirelles realizou não só um recontar do enredo, mas buscou nas especificidades do cinema realizar uma obra de força em si. Som, música, edição. Artifícios de linguagem que o diretor domina como poucos. A fotografia de César Charlone, que desconstrói a imagem para melhor captar a impressão de perda da visão e a cegueira branca, é corajosa e de personalidade.
Há, sim, problemas de roteiro. Ensaio... é um tanto desequilibrado, principalmente na primeira meia hora de projeção. Nesse início, falta aos personagens despertar a empatia indispensável para nos envolvermos com o que se passa. Mas logo o envolvimento ocorre, junto com a força que o filme possui.
Quase no final do filme, há uma cena emblemática: na cidade já imunda e decadente, a chuva cai. Homens e mulheres se deixam encharcar em busca não só de limpeza, mas de redenção. Em tempos de brutalidade latente, a civilização clama por purificação.
Como no livro de Saramago, deve-se perder a visão para voltar a enxergar. Diz a mulher do médico (persongem de Julianne) para seu esposo, no final do livro: “Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que vem, Cegos que, vendo não vêem”.
4 comentários:
Problema de roteiro ou ousadia e respeito à ousadia do próprio Saramago - autor conhecido também pelos seus começos de livro marcantes.
Ouso discordar, neste ponto, de muitos que analisam o roteiro e enxergam este problema no seu início, o que inclui o próprio Meirelles.
meu caro H,
Permita-me também ousar discordar de ti.
Concordo quando você diz que o início do livro de Saramago é impactante,como acontece em outros de seus livros. Mas não creio que Mereilles alcançe tamanha força...
Filme com início impactante pra mim é "O Poderoso Chefão" ( "I believe in America", "Apocalipse Now ("This is the End..")e "2001" do Kubrick.
Acho que Meirelles deveria começar seu filme como começou (como o livro), mas seu início possui, pra mim, pouco "impacto cinematográfico".
Obrigado pela visita, meu caro.
Vamos pensar nosso Cinema!
abraços,
josa
Oie!
Trabalhei com pessoas que fizeram o filme, assim são suspeito em dizer qq coisa a respeito.
Ainda não vi o filme, qdo eu ver, dou meu parecer.
;)
Besos
ainda nao vi o filme, mas adorei o seu texto!
boa sorte na carreira jornalística!
bjos
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