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7 de ago. de 2009

À Deriva


Deixa muito a desejar o terceiro longa do diretor pernambucano Heitor Dhalia. “À deriva”, em cartaz nos cinemas, possui menos personalidade que seus trabalhos anteriores, como “Nina”, seu filme de estréia. Mesmo com boas condições de produção (Orçamento de US$ 3 milhões), Dhalia perde-se na beleza de búzios. Fez um filme frio em praias quentes.

O filme é resultado de uma parceria entre a produtora O2 e a internacional Focus Features. Com a chancela das duas, teve facilidades para sua exibição no exterior. Bem diferente da produção improvisada em cooperativa de “O Cheiro do Ralo”, segundo e melhor filme do diretor. Para seu novo projeto, Dhalia teve mais traquilidade. Pôde contar com técnicos de ponta e atores renomados como o francês Vincent Cassel (“Senhores do Crime”) e Déborah Bloch. A jovem Laura Neiva, encontrada no Orkut pela produção, estréia sua carreira artística junto com o filme.

Laura é Filipa, adolescente de 14 anos que enfrenta a chegada da puberdade e a separação eminente de seus pais (Cassel e Débora). Emocionalmente confusa, viverá seu rito para a vida adulta da melhor forma possível.

Interessante a premissa do filme, uma temática adolescente rara no cinema nacional. Mas justamente o desenvolvimento da idéia inicial, ou seja, o roteiro, é o calcanhar de aquiles de “À deriva”. O texto escrito pelo próprio diretor - com consultoria de Vera Egito - é dramaticamente superficial, redundante e com um ritmo vacilante. Dhalia tem algo a dizer, mas tem-se a impressão que dava para contar sua história num curta metragem. 1 hora e 37 minutos de duração é suspeitar que há recheio desnecessário no resultado final do projeto.

O trabalho de luz do fotógrafo Ricardo Della Rosa, por exemplo, não parece estar em sintonia com a propensa densidade de algumas sequencias. Praias costumam ser cinematográficas, mas pode fazer mal à retina ver o litoral fotografado como comercial de cartão de crédito por quase duas horas de projeção. No início de carreira, Dhalia trabalhou com publicidade e parece ter incorporado os vícios da profissão. Assim como acontece no cinema de Fernando Meirelles, também um ex-publicitário e produtor desse longa edulcorado.

Ao término de “À deriva”, fica a sensação de insatisfação. Um filme que tinha tudo, mas não chega a acontecer.

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