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21 de ago. de 2009

Gigante


Uma história de amor. Simples assim. “Gigante”, filme uruguaio de Adrian Biniez estréia hoje (21) nos cinemas para falar do mais recorrente dos temas. A forma singela como é contada essa história de paixão platônica é o que faz a diferença dessa comédia dramática encantadora.

Depois de arrebatar o Urso de Prata no 59º Festival de Berlim desse ano, e levar para casa os prêmios de melhor ator (Horacio Camandule), roteiro (Biniez) e crítica no recém finalizado Festival de Gramado, o público agora tem a chance de conferir por conta própria o porquê de tanto alarido por esse filme tão pobre em recursos de produção, mas rico em observações humanas

Jara (Camandule) trabalha como segurança noturno de um supermercado. Grandalhão, fã de rock, e cara de poucos amigos. Mas percebemos aos poucos que sua falta de elegância não é proporcional à imensa simpatia como trata aqueles à sua volta, como seu sobrinho e seus colegas de trabalho.

Certa madrugada, pelas câmeras de vigilância, apaixona-se por uma das faxineiras de seu trabalho, Julia (Leonor Svarcas). Ele não sabe seu nome, se é solteira ou casada. E no fundo pouco importa. Jara, como o voyeur James Stuart de “Janela Indiscreta”, usará as lentes de uma câmera para alimentar suas (boas) obsessões. Jara, nos horário de folga, passa a seguir pela cidade seu obscuro objeto de desejo. Sempre à distância, sem nunca abordá-la.

Os olhos sem malícia de Jara nos guiam nessa busca cheia de idealização romântica. Suas interrogações são também as do espectador, gerando um benvinda cumplicidade entre público e “Gigante”. Até o final, o diretor Biniez sustenta essa parceria, potencializada por excelentes interpretações de todo o elenco, principalmente de Horacio Camandule na pele de Jara.

Não foi gratuito o prêmio em Gramado para a performance de Camandule. Seu trabalho destoa das interpretações costumeiras para o cinema. De formação teatral, seu trabalho não possui excessos em caras e bocas, mas uma naturalidade que faz de Jara um homem de carne e osso. Palpável. Alguém por quem podemos torcer e se emocionar a medida que o acompanhamos em sua jornada pela mulher amada.

Tendo como base uma premissa original e atores talentosos, para que o filme funcione, não são necessários movimentos de câmera muito sofisticados ou uma montagem que desconcerte o espectador. O diretor e o fotógrafo Araúco Hernández optaram por enquadramentos simples, diretos. O que não é sinônimo de falta de rigor, mas prioriza-se a história e sua humanidade. Mesmo que no meio da trama se encontre observações pertinentes sobre as relações de trabalho e a atual sociedade da imagem.

No supermercado, onde se passa grande parte do filme, tem-se uma clara crítica à tensão desnecessária entre funcionários e patrões. Por mais de uma vez, o coração bondoso de Jara intervêm para que a fragilidade dos empregados não seja exposta por chefes insensíveis.

Tanto no trabalho como em outros ambientes, há sempre uma câmera de vídeo vigiando tudo e todos. O primeiro e real contato amoroso entre Jara e Julia, lá pelo meio do filme, é mediado por uma dessas câmeras, hoje onipresentes, como alertava George Orwell em seu profético “1984”.

Além das comédias românticas como “A proposta” e “Marido por acaso”, há um outro tipo de cinema que fala sobre os mesmos temas; paixão, relacionamentos. E pode também emocionar e fazer rir, como é o caso de o “Gigante”.


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