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23 de abr. de 2007

Batismo de Sangue

Difícil falar sobre esse filme. Para escrever uma crítica é necessário olhar a obra com certa perspectiva. Mas como ter esse distanciamento diante de um filme de tema tão delicado e humanamente relevante como acontece em Batismo de Sangue? Como criticar negativamente um filme sem desmerecer a sua causa e o seu tema?

Batismo de Sangue conta sobre o envolvimento de freis católicos com a luta armada em pleno 1968, ano decisivo no endurecimento do regime militar brasileiro. O diretor Helvécio Ratton tem claramente a intenção de fazer de seu filme uma referência didática para novas gerações. Mas a força do filme se esvai diante de interpretações pasteurizadas e cenas dramaticamente inconsistentes.

Às vezes é até incompreensível ainda encontrar no cinema nacional filmes tão imaturos dramaturgicamente como esse Batismo de Sangue, Zuzu Angel, Olga e outros.

Se o intuito do diretor era conscientizar o espectador sobre a luta e perda de vidas em nosso pesadelo militar, ele talvez consiga algum resultado nos últimos minutos do filme, quando a interpretação de um excelente Caio Blat “quase” redimi todo o filme até ali. Para que Ratton alcançasse inteiramente seus objetivos, ele primeiro tinha que aprender seu ofício de diretor de cinema.

Cabe ao cineasta liderar uma equipe de profissionais selecionada por ele, que o ajudem a passar sua visão do filme para a tela grande. Alguém duvida do talento de atores como o de Daniel de Oliveira e Ângelo Antônio? Ou mesmo do currículo do fotógrafo Lauro Escorel? Mas o diretor não foi capaz de potencializar o talento de sua equipe. Pelo contrário, molda seus atores para constrangedoras performances artificiais, e uma estética não muito mais interessante do que a que vemos numa novela global.


Recente estréia nos cinemas: Resultado incompreensível

Se algo pode se salvar dessa irregularidade irritante é a já comentada interpretação de Caio Blat, e a trilha sonora de Marco Antônio Guimarães (Lavoura Arcaica), que junto com Antônio Pinto, é um dos mais fascinantes músicos brasileiros para cinema.

Como disse no começo texto. Não pretendo desmerecer um tema tão delicado como o do filme. Sou sensível a ele. Mas boas intenções infelizmente não fazem grandes filmes...

2 comentários:

Anônimo disse...

Realmente, tenho que concordar com você Josa!

A causa por si só já é capaz de nos tocar profundamente, mas quando nos distanciamos um pouco mais para uma análise do filme e lembramos de certas cenas soltas e que não contribuem para a construção da história, é realmente lamentavel.

O tema poderia ter um representante cinematográfico muito mais consistente do que esse filme.

Uma pena!

Josa disse...

É mesmo um pena...

Vários filmes já foram feitos sobre, ou tendo como pano de fundo o regime militar.

"Quase Dois Irmãos"(Lucia Murat), pra mim, é o que vai mais longe. Pensa os anos 60 e 70 para pensar sobre o Brasil de Hoje!

abraços...