analy

10 de abr. de 2007

Pequena Miss Sunshine e a América de Bush

“A vida é um grande concurso de beleza”

A primeira vez que vi esse filme nem foi com grandes expectativas. Sabia que era um filme independente e de seu sucesso no festival de Sundance. Mas na época nem se falava em possível indicação ao Oscar, muito menos numa possibilidade de vitória em alguma categoria. Hoje sou um entusiasmado pelo filme, sempre sugerindo aos amigos que o vejam. E compartilho aqui algumas dessas razões.

Pequena Miss Sunshine à primeira vista parece que pode seguir por um caminho convencional de “família desajustada que se redime ao longo da estrada”, como uma boa sessão da tarde. Mas mesmo utilizando algum desses clichês, os diretores de alguma forma subvertem esses mesmos fazendo um dos filmes mais encantadores dessa última safra do cinema americano!

É impossível resistir ao encanto de cada um daqueles personagens. O filme começa mostrando quão desunidos todos eles são, até que surge a oportunidade de levar a filha de 7 anos para participar de um concurso de misses infantil. E aí surge a oportunidade para essa família reencontrar os seus laços.

“O inferno está em nossas famílias” disse certa vez Nelson Rodrigues. E realmente só nós sabemos o que pode se passar dentro das nossas quatro paredes. A Kombi amarela usada para alcançar o destino final serve como metáfora e catalisador para a união desse pequeno clã.

Kombi como metáfora para a união da família
Além de tudo isso, acredito que dentro dessa aparentemente inofensiva jornada familiar há uma nítida crítica à sociedade americana, e talvez ainda um sério alerta para esse mundo globalizado em que sobrevivemos. Explico:

O concurso de beleza infantil mostrado no filme nada mais é do que um universo de competição e esterilidade como é qualquer cotidiano de uma grande empresa ou banco. Tão desumano como uma dinâmica de grupo que temos que participar para conseguir uma vaga de emprego.

A obsessão pelo sucesso e pelo dinheiro é a ideologia introjetada nos corações e mentes do nosso milênio.

“A vida é um grande concurso de beleza” diz o filho mais velho do casal, que sonhava em entrar na força aérea. Digo que o Mundo se tornou um grande concurso de beleza! Competitivo, falso, cheio de aparências, sem conteúdo ou humanidade.

Toda a família no final do filme subindo naquele palco, dançando e rebolando de maneira tão anárquica é uma subversão não só àquele concurso de beleza, mas à forma de pensamento predominante no american-way-of-life.

Depois de ser relançado am algumas salas após sua vitória no Oscar nas categorias de Roteiro Original e Ator Coadjuvante (Alan Arkin), o filme acaba de sair nas locadoras.

Alugue! Eis uma pérola que diverte e também faz pensar...

4 comentários:

Anônimo disse...

Pela "fachada" do filme, a principio, não dei a devida atenção.Diante dos seus comentários tomei mais apreço e acompanhando a entraga do oscar mais atendo fiquei pelo tema.Os desdobramentos contidos nos realacionamentos familiares, os seus acertos e desencontros, sempre me fascinaram.Preciso ver.Obrigado pela diga.Vou alugar.
"oldneo"

Fabio disse...

preciso ver esse filme!!!

Aline disse...

Esse é o meu queridinho... É ao mesmo tempo um filme com humor super debochado, crítico e quase beirando o grotesco... e ao mesmo tempo, tão sensível... E nem me fale de mundo de aparências e que a vida é um grande concurso de beleza. Os valores estão tão invertidos que quem vai um pouco além do superficial acaba sendo um peixe fora d'água. Temos que mostrar o tempo todo que somos pró-ativos, competentes, elegantes e que topamos qualquer negócio... O.o

Josa disse...

...

"...Temos que mostrar o tempo todo que somos pró-ativos, competentes, elegantes e que topamos qualquer negócio"...

... sempre dispostos a "novos desafios", não é?

Êta, mundinho medíocre!

Para quem não viu, pegue na locadora o documentário canadense "A Corporação". E veja como as grandes companhias se saem analisadas no divã!

abraços...