“Quem quer ser milionário” era uma versão pasteurizada de Hollywood para os filmes originais da indústria de cinema indiano. “Oye Lucky, Lucky Oye!”, pelo contrário, vem direto da fonte: Bollywood.
Escrito e dirigido Dibakar Banerjee, “Oye Lucky...” conta história real de Lovinder Singh, ladrão carismático e amoral que fez fama na Índia roubando ricos e pobres. De acordo com um apresentador de televisão que abre e fecha o filme, fazem parte do currículo de Lucky 140 televisões, 212 vídeos cassetes, 475 camisetas e 2 cachorros...
“Oye Lucky, Lucky Oye” possui as características que predominam no cinema de Bollywood: Estrelas no elenco, um visual colorido que beira o kitsch e um ritmo de montagem quase alucinante. É um filme feito para ser popular, que beira o popularesco. Assim como as chanchadas brasileiras dos anos 40 e 50, que lançavam as marchinhas musicais para o próximo carnaval, “Oye Lucky...”, logo nos créditos, mostra uma lista imensa de compositores e letristas das músicas que devem estourar no mercado fonográfico indiano. Os atores não chegam a cantar, mas na trilha sonora há canções o tempo todo. Ouvidos podem sair danificados da sala escura.
Abhay Deol interpreta o malandro, mas charmoso, Lucky Singh. Logo de cara, dá para perceber que Abhay conuistou com o papel de protagonista nem tanto por seus dotes na arte da interpretação, mas provavelmente por ser dotado de inegáveis qualidades estéticas. É magro, elegante, e possui sorriso de astro. A câmera do diretor Banerjee não lhe nega a cumplicidade. No plano de apresentação de seu personagem, têm-se um enquadramento bem próximo de seu rosto e uma iluminação de primeira que diz ao espectador: “Sim. Este é o astro que você esperava quando comprou o ingresso para o filme.”
Estruturado em duas partes, com um intermission no meio, “Oye Lucky...” começa num tom de farsa e termina num registro mais sóbrio e realista. Deixando o resultado final um tanto irregular e cansativo. O fato de ser “baseado em fatos reais” mais atrapalha do que ajuda. Lucky é uma espécie de Macunaíma sem caráter que rouba muito mais pelo prazer do que por uma necessidade material, que também existe, claro, mas que ao longo do filme comprova-se secundária. Esse anti-herói diverte bastante na primeira parte, na segunda, porém, o filme leva-se mais a sério e torna-se um tanto moralista e sem fôlego para reflexões mais densas sobre as contradições do personagem. Para quem quer conhecer outra cultura cinematográfica, que ao ano produz mais filmes que Hollywood, “Oye Lucky, Lucky Oye” é um prato cheio.
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