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25 de out. de 2009

Mostra SP: Oye Lucky, Lucky Oye!

“Quem quer ser milionário” era uma versão pasteurizada de Hollywood para os filmes originais da indústria de cinema indianoLista com marcadores. “Oye Lucky, Lucky Oye!”, pelo contrário, vem direto da fonte: Bollywood.
Escrito e dirigido Dibakar Banerjee, “Oye Lucky...” conta história real de Lovinder Singh, ladrão carismático e amoral que fez fama na Índia roubando ricos e pobres. De acordo com um apresentador de televisão que abre e fecha o filme, fazem parte do currículo de Lucky 140 televisões, 212 vídeos cassetes, 475 camisetas e 2 cachorros...

“Oye Lucky, Lucky Oye” possui as características que predominam no cinema de Bollywood: Estrelas no elenco, um visual colorido que beira o kitsch e um ritmo de montagem quase alucinante. É um filme feito para ser popular, que beira o popularesco. Assim como as chanchadas brasileiras dos anos 40 e 50, que lançavam as marchinhas musicais para o próximo carnaval, “Oye Lucky...”, logo nos créditos, mostra uma lista imensa de compositores e letristas das músicas que devem estourar no mercado fonográfico indiano. Os atores não chegam a cantar, mas na trilha sonora há canções o tempo todo. Ouvidos podem sair danificados da sala escura.

Abhay Deol interpreta o malandro, mas charmoso, Lucky Singh. Logo de cara, dá para perceber que Abhay conuistou com o papel de protagonista nem tanto por seus dotes na arte da interpretação, mas provavelmente por ser dotado de inegáveis qualidades estéticas. É magro, elegante, e possui sorriso de astro. A câmera do diretor Banerjee não lhe nega a cumplicidade. No plano de apresentação de seu personagem, têm-se um enquadramento bem próximo de seu rosto e uma iluminação de primeira que diz ao espectador: “Sim. Este é o astro que você esperava quando comprou o ingresso para o filme.”

Estruturado em duas partes, com um intermission no meio, “Oye Lucky...” começa num tom de farsa e termina num registro mais sóbrio e realista. Deixando o resultado final um tanto irregular e cansativo. O fato de ser “baseado em fatos reais” mais atrapalha do que ajuda. Lucky é uma espécie de Macunaíma sem caráter que rouba muito mais pelo prazer do que por uma necessidade material, que também existe, claro, mas que ao longo do filme comprova-se secundária. Esse anti-herói diverte bastante na primeira parte, na segunda, porém, o filme leva-se mais a sério e torna-se um tanto moralista e sem fôlego para reflexões mais densas sobre as contradições do personagem. Para quem quer conhecer outra cultura cinematográfica, que ao ano produz mais filmes que Hollywood, “Oye Lucky, Lucky Oye” é um prato cheio.

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