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2 de out. de 2009

O Desinformante!


Telefones grampeados, agentes do FBI, crimes corporativos. À primeira vista, dá para imaginar que essa combinação diz respeito a mais um filme à moda de “A Firma” ou “Conduta de Risco”. Mas calma, o título do filme já sugere uma ligeira ironia com “O Informante”, filme de Michael Mann sobre a indústria de cigarros norte-americana, com Russel Crowe e Al Pacino. E a ironia faz sentido, porque ao invés de um filme sério, adulto e com tons de denúncia, “O Desinformante” é uma despretensiosa comédia que tira sarro de vários clichês desse tipo de filme, mesmo sendo baseado em fatos reais.

Matt Damon é Mark Whitacre, executivo de sucesso que toma uma decisão inusitada: Denunciar os patrões. A empresa onde trabalha, a Archer Daniels Midland (ADM), realiza um cartel com empresas de várias partes do globo, nivelando os preços de seus produtos derivados do milho. Por uma crise de consciência, ou talvez para deixar sua vida burocrática um pouco mais aventuresca, Mark entra em contato com o FBI. Diz para os engravatados do governo tudo sobre as irregularidades corporativas que conhece. Mas um simples depoimento não basta para incriminar seus chefes, Whitacre terá que encarnar o agente secreto, usando os mais modernos equipamentos para isso: Microfones, câmeras escondidas, etc. Lá pelas tantas, ele passa a se intitular o “agente 0014”, porque é “duas vezes mais esperto que 007”...

Whitacre ingenuamente se vê como um paladino empresarial que vai levar os vilões da história para a cadeia. E em contrapartida, se tornará o herói da trama e talvez até o novo presidente da empresa que está denunciando (!). Afinal, quem melhor do que ele mesmo, que fez uma faxina moral nas ilegalidades de sua firma, para transforma-se no novo CEO da Archer Daniels Midland? “Quando acabar, os diretores da ADM vão entender. Vão ver em que posição eu estava e que agi no melhor interesse de todos”, pensa o imaginativo Mark.

Num outro momento hilário do filme, o personagem de Damon está dentro do cinema vendo justamente “A Firma”. Sua projeção com a história que envolve lavagem de dinheiro e um advogado inconformado (Tom Cruise) é inevitável. Vendo o filme, Whitacre pensa consigo: “Essas pessoas não viram o filme “A Firma”, nem leram o livro? Está tudo lá.” Nada como um bom filme para alimentar a cabeça fantasiosa de Mark, que a cada nova cena diz algo diferente para os agentes do FBI, desencadeando quase uma comédia de erros como “Queime depois de ler”, dos irmãos Coen.

O episódio envolvendo a ADM foi um dos maiores escândalos corporativos na história recente dos Estados Unidos. O roteiro escrito por Scott Z. Burns é baseado no livro “The Informant: A True Story” de Kurt Eichenwald, também produtor do filme. Só que nas mãos do diretor Steven Soderbergh (da trilogia “Onze Homens e um Segredo”) o caso ganha na tela retoques de humor e ironia, guiado por um Matt Damon 15 quilos mais gordo. Lembrando o pesado e careca Jeffery Wigand, personagem de Crowe em “O Informante”.

Contando com um elenco talentoso e uma trilha sonora de primeira, “O Desinformante” diverte bastante e, com um pouco de boa vontade, faz pensar sobre particularidades da cultura norte-americana. Desde o gênero dos filmes de espionagem até a ética de suas corporações, que fazem de tudo para alcançar lucros astronômicos. “Todos neste país são vítimas de crimes corporativos, desde a hora em que terminam de tomar o café da manhã.”, lapida o personagem de Damon, numa reflexão não tão ingênua assim.

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